A China está investindo na expansão das capacidades anfíbias de sua Marinha para dar impulso às ambições do governo central, visando não só uma possível invasão a Taiwan, mas também o aumento da presença militar chinesa em outros cantos do mundo.
Em abril, a China lançou seu segundo porta-helicópteros Type 075, maior navio de assalto anfíbio do país e o terceiro maior do mundo. Medindo cerca de 240 metros e deslocando até 40 mil toneladas, o Type 075 poderá embarcar 900 fuzileiros navais, cerca de 30 helicópteros e cerca de 12 veículos de combate anfíbios que podem ser lançados a partir de seu convés. O navio é semelhante em tamanho e design aos navios de assalto anfíbio para docas de helicópteros da classe Wasp da Marinha dos EUA. Acredita-se que um terceiro esteja em construção.
Quando entrar em operação, o Type 075 deve ser usado em conjunto com os navios anfíbios de doca de transporte Type 071, que podem transportar um batalhão inteiro de fuzileiros navais da Marinha Chinesa e seus equipamentos – incluindo embarcações com amortecimento a ar, veículos blindados e quatro helicópteros. Atualmente, a China tem cinco Type 071 em operação e mais um está sendo construído. Segundo relatório da Agência de Inteligência da Defesa dos EUA, de 2018, as forças armadas chinesas também estão investindo em navios de reabastecimento para ampliar o alcance operacional dessas plataformas anfíbias.
Em artigo para o Instituto Naval dos EUA , de abril deste ano, o capitão Michael A. Hanson, do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, escreveu que “esses desenvolvimentos representam uma enorme mudança no papel e no objetivo” do Corpo de Fuzileiros Navais da China. Ele lembrou que até poucos anos atrás, a infantaria da Marinha não tinha um papel estratégico para o Exército de Libertação Popular, mas agora muita coisa mudou. “A China não está apenas pensando em projetar-se como uma potência global, mas cada vez mais está construindo capacidades para alcançar isso”, escreveu Hanson.
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Outros fatos que exemplificam essa aposta: o Corpo de Fuzileiros Navais da China contava com cerca de 10 mil homens até metade da década; agora, estima-se que esse número tenha aumentado para algo entre 28 mil e 35 mil fuzileiros, segundo estimativa dos EUA. A frota também expandiu, passando de 20 navios anfíbios em 2005 para 37 embarcações anfíbias em 2018. Em agosto de 2017, a China inaugurou sua primeira base militar no exterior no Djibuti, implantando uma companhia de fuzileiros navais e equipamentos na base.
Os Estados Unidos acompanham essa modernização da Marinha do Exército da Libertação Popular e acreditam que as frotas anfíbias poderão ser usadas na condução de desembarques anfíbios em cenários de conflito relacionados a Taiwan, especialmente em um momento de grande tensão entre a República da China (nome oficial de Taiwan) e a República Popular da China. A China considera Taiwan uma de suas províncias e disse que não hesitará em invadir a nação insular se o governo democrático anti-Pequim declarar independência.
Um relatório do governo americano revelou recentemente que o Partido Comunista está intensificando uma campanha de pressão militar e diplomática contra Taiwan. Mesmo em meio à pandemia, aeronaves militares chinesas cruzaram a linha que divide China e Taiwan por três vezes nos primeiros meses de 2020. Em julho isso aconteceu pelo menos seis vezes, segundo noticiou o South China Morning Post. Em 2019 isso ocorreu apenas uma vez. Essa pressão também é interpretada como um recado aos EUA, que, apesar de ter relações diplomáticas estabelecidas com Pequim, apoia e vende armas para Taiwan.
Porém, analistas e autoridades de defesa americanas acreditam que os investimentos da China em uma força anfíbia renovada têm outros objetivos além da preparação para uma invasão a Taiwan. Um relatório do Congresso dos EUA, atualizado em maio de 2020, informa que alguns observadores acreditam que a China está construindo esses navios para defender as suas reivindicações territoriais no Mar da China Meridional e no Mar da China Oriental, como, por exemplo, as ilhas Parcel, que também são reivindicadas pelo Vietnã.
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Uma reportagem da Reuters publicada recentemente informou que a defesa da China já conta com “unidades militares poderosas, treinadas e equipadas para fazer o tipo de desembarque necessário para uma invasão de Taiwan”, mas que as novas frotas anfíbias, que têm capacidade de atuar de forma independente, podem ser designadas para operações em todo o mundo, inclusive em locais onde a China possui amplos investimentos.
"No momento, estamos vendo apenas a ponta do iceberg", disse à Reuters Ian Easton, diretor sênior do Project 2049 Institute, um grupo de pesquisa de segurança com sede em Arlington, Virgínia. “Daqui a dez anos, a China quase certamente terá unidades da Marinha implantadas em locais em todo o mundo. As ambições do Partido Comunista Chinês são globais. Seus interesses são globais. Ela planeja enviar unidades militares onde quer que seus interesses estratégicos globais exijam”.
O relatório do Congresso ainda diz que, politicamente, navios anfíbios também podem ser usados para diplomacia naval e para impressionar ou intimidar observadores estrangeiros. “A marinha da China é vista como um grande desafio à capacidade da Marinha dos EUA de alcançar e manter o controle das áreas oceânicas de águas azuis no Pacífico Ocidental em tempo de guerra – o primeiro desses desafios que a Marinha dos EUA enfrentou desde o final da Guerra Fria”, diz o documento produzido pelo Serviço de Pesquisa do Congresso.
Frente a este desafio, a Marinha dos EUA, mesmo sendo superior à da China, adotou várias medidas para conter os esforços chineses. Por exemplo, transferiu uma porcentagem maior de sua frota para o Pacífico e designou seus novos navios e aeronaves mais capazes e seu melhor pessoal para o Pacífico.
De acordo com Nick Childs, especialista em Forças Navais e Segurança Marítima para o IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos), muitas outras nações também estão investindo em recursos anfíbios por causa de sua crescente utilidade em uma ampla variedade de missões. “Nenhum [país] tem o mesmo nível de ambição operacional que a China ou os EUA, mas todos devem estar observando de perto como as capacidades anfíbias da Marinha chinesa e da Marinha dos EUA continuam a evoluir”.
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