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A derrota do peronista Sergio Massa para o opositor libertário Javier Milei no segundo turno eleitoral da Argentina, que aconteceu neste domingo (19), foi o primeiro passo para uma transição política do atual governo, liderado por Alberto Fernández, após uma desastrosa gestão que colocou o país em níveis de inflação históricos acima de 140% e de pobreza em 40%.
O mandatário do país, até o dia 10 de dezembro, reconheceu o "veredito popular" que concedeu vitória a Milei com mais de 55% dos votos, contra 44% do atual ministro da Economia, apoiado por ele.
Diante do resultado, o atual presidente e seu sucessor no cargo, Javier Milei, concordaram em se encontrar para definirem como ocorrerá a transição, de acordo com fontes ouvidas pela emissora americana CNN.
A reunião coloca em jogo o futuro dos integrantes peronistas-kirchneristas que foram derrotados nas urnas neste domingo (19) e abre caminho para a entrada de novos atores políticos na Casa Rosada.
Fontes oficiais consultadas pela Agência EFE afirmaram que Sergio Massa está analisando um possível pedido de licença do cargo de ministro da Economia após a derrota, mas não tomará nenhuma decisão até que o atual presidente e Milei se encontrem. Apesar disso, o "número dois" de Massa na Economia, o secretário de Política Econômica, Gabriel Rubinstein, negou os rumores de sua saída do cargo.
“Dadas as versões que observo que começaram a circular, apenas 2 esclarecimentos: 1) não renunciei nem vou renunciar ao cargo de secretário de Política Econômica, 2) não solicitei licença nem o farei até 10 de dezembro ", escreveu Rubinstein na rede social X (antigo Twitter).
De acordo com o jornal argentino Clarín, a vice-presidente Cristina Kirchner ficou surpresa com o resultado eleitoral, mesmo que as pesquisas de opinião apontassem uma vitória de Milei, por uma pequena vantagem. Atualmente, Kirchner é investigada em uma complexa rede de processos judiciais, que poderão resultar em vários anos de prisão domiciliar, no entanto ela segue com foro privilegiado.
A vice-presidente argentina, que comandou o país por dois mandatos (2007-2015), já tem condenação de seis anos por fraude contra o Estado. Com a saída de cargos públicos, a partir de 10 de dezembro, sua situação judicial pode ganhar novas nuances.
À Gazeta do Povo, o analista político e doutor em Ciência Política, Leandro Gabiati, explicou como os derrotados ficarão daqui para frente com a vitória histórica do libertário Milei na Argentina, inaugurando um novo momento para o país, que não será governado pelo peronismo ou alas da oposição como o Pro, de Maurício Macri, e a União Cívica Radical (UCR).
"O peronismo tem o voto cativo de 20% a 30% dos eleitores, assim como o PT tem no Brasil. Portanto, há uma base política importante que explica a votação do Massa na Argentina. Tirando esse eleitores dos polos, muitos argentinos de centro tiveram que escolher um candidato para evitar a chegada do outro no poder, não necessariamente porque aquele candidato é visto como a melhor opção para o eleitor", afirmou Gabiati.
"Essa eleição foi duríssima para o peronismo. Eles perderam em praticamente todas as províncias e geralmente nesse tipo de momento político há uma renovação dentro da base, o que o kirchnerismo conseguiu fazer com o peronismo nos anos anteriores, quando ou estava no poder ou no comando do partido", explicou o analista, que vê o fracasso gritante do peronismo como um momento de movimentação política interna.
"Nesse momento, o peronismo deve buscar uma nova figura ou grupo que renove o movimento político. Eles têm uma base importante no Senado, mais de uma centena de deputados, têm uma força legislativa significativa. Temos Cristina Kirchner, que mantém o foro privilegiado por ser senadora, o ministro da Economia, Sergio Massa, que ficará sem mandato a partir do dia 10, e Fernández, uma figura opaca dentro do peronismo. Então, espera-se uma renovação dentro dessa oposição ao governo eleito", avaliou Gabiati.
A eleição deste domingo foi um marco negativo para o peronismo, que viu sua pior derrota política em 40 anos desde o retorno da democracia e, também para o kirchnerismo, desde 2003, quando se firmou na política argentina.
Um dia após o resultado eleitoral, as poucas manifestações das principais figuras governistas demonstram um clima de incerteza no país, que se vê afundado em uma crise cada vez maior, com um mercado cambial falsamente controlado por medidas populistas de Sergio Massa para a contenção do dólar, além dos acordos de congelamento de preços e subsídios, que vencem neste mês e vão servir de "armadilha" para a administração do governo eleito.