Para imagem histórica, fotógrafo contou com a sorte
A imagem emblemática do massacre da Praça da Paz Celestial é a de um manifestante parado diante do tanque de guerra que avança. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o autor da foto, o americano Jeff Widener, disse que estava machucado por uma pedrada que levara no rosto no dia anterior e gripado. Ele conseguiu entrar em um hotel e, como seu filme para a máquina havia acabado, pegou emprestado de um turista e fez a foto que entrou para a história.
EUA
Em comunicado emitido nesta quarta-feira, a Casa Branca pediu que as autoridades chinesas se responsabilizem pelas pessoas mortas, detidas ou desaparecidas em eventos relacionados à repressão de 4 de junho. O porta-voz chinês Hong Lei pediu que os Estados Unidos "parem de fazer declarações irresponsáveis envolvendo questões internas da China".
2.600 pessoas podem ter sido mortas pelo Exército chinês durante o protesto pró-democrático que reuniu universitários e operários na Praça da Paz Celestial em 4 de junho de 1989. O número total nunca foi divulgado. Estima-se que, no mínimo, 300 vítimas que perderam a vida.
A capital da China esteve sob forte esquema de segurança ontem, durante o 25.º aniversário da sangrenta repressão do Partido Comunista contra manifestantes pró-democracia em 1989. A polícia age agressivamente para evitar atos que relembrem os eventos tanto no interior quanto ao redor da Praça da Paz Celestial ou Tiananmen.
Uma grande quantidade de policiais e agentes de segurança à paisana se distribuíram pela ampla praça, enquanto unidades armadas com rifles de assalto foram vistas patrulhando o centro da capital.
Autoridades intensificaram suas ações nos dias anteriores ao aniversário neste ano, detendo ativistas de direitos humanos e contendo discussões on-line sobre o evento. Dezenas de policiais e paramilitares patrulhavam a Avenida Chanan, principal via que leva à Praça da Paz Celestial e ao Grande Salão do Povo.
Como de costume, a praça estava cheia de turistas e agentes de segurança. Alguns visitantes expressassem nervosismo por serem vistos no local no aniversário de um evento político na China.
Censura
Antes do aniversário deste ano, alguns ativistas pediram que as pessoas vestissem preto para lembrar a repressão. A polícia foi vista interrogando duas pessoas vestidas de preto no começo da tarde na praça.
No Weibo, um microblog parecido com o Twitter, referências diretas ou não à repressão na Praça da Paz Celestial foram rapidamente retiradas do ar e as contas de alguns conhecidos ativistas foram suspensas ou apagadas.
A China também intensificou a fiscalização em empresas estrangeiras de internet. Os serviços do Google no país estavam quase que totalmente inacessíveis.
Massacre
Na madrugada de 4 de junho de 1989, tropas chinesas se movimentaram para interromper sete semanas de protestos que pediam democracia e outras mudanças políticas. Os manifestantes demonstraram níveis de discordância raramente vistos no país. O Exército abriu fogo e a ação terminou com centenas, talvez milhares de mortos. O número nunca foi revelado.
Chineses ignoram a data que é marcada pela morte de centenas
Espremidas em uma fila longa e demorada, duas turistas chinesas se perguntavam qual seria o motivo da segurança ultrarreforçada para entrar na Praça da Paz Celestial, no coração de Pequim, ontem.
Tentando ajudar, um chinês de trajes simples que está um passo à frente arrisca um palpite: "Deve ser alguma data comemorativa do Mao Tsé-tung". Não era.
O mausoléu do líder comunista, onde seu corpo embalsamado permanece em exposição há 38 anos, fica a poucos metros. Mas as medidas extras de segurança nada tinham a ver com ele. A data era o aniversário de 25 anos do massacre da Praça da Paz Celestial, 4 de junho, um dos eventos mais dramáticos da história recente da China e, ao mesmo, tempo ignorado por muitos.
Mesmo em plena era das redes sociais e da comunicação instantânea, o governo chinês conseguiu manter boa parte da maior população do planeta alheia ao que houve há 25 anos.
Protesto
Em Hong Kong, território que pertence à China mas mantém certa autonomia política, um público recorde de 180 mil pessoas, segundo os organizadores, participou de uma vigília com velas acesas para lembrar o aniversário do massacre.