Foto tirada de celular durante manifestação contra o governo da Síria em Banias, no nordeste do país: desde o começo dos protestos, as mortes já chegam a 300| Foto: AFP

Reação

Obama diz que sírios buscam ajuda iraniana

Washignton - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse ontem que a sangrenta repressão do governo sírio contra os manifestantes "tem que chegar a um fim agora" e acusou Damasco de procurar ajuda iraniana para reprimir seu povo.

Obama condenou a violência mas não citou nenhuma potencial consequência por parte dos Estados Unidos caso Bashar Assad, o ditador sírio, se recuse a atender as demandas. As forças norte-americanas já integram uma campanha militar da Otan contra o líder líbio Muammar Kadafi e os norte-americanos são cautelosos em um maior envolvimento militar na região, onde tropas dos EUA têm lutado longas guerras no Iraque e no Afeganistão.

"Este revoltante uso de violência para reprimir os protestos deve chegar a um fim agora", disse Obama. "Ao invés de ouvir o seu próprio povo, o presidente Assad está acusando pessoas de fora, enquanto pede assistência iraniana para reprimir os cidadãos da Síria através das mesmas táticas brutais que têm sido usadas pelos aliados iranianos". Os EUA reagiram de forma diferente aos levantes que surgiram no norte da África e no Oriente Médio.

Egito

No Egito, Obama manteve uma política de pressão pacífica sobre Hosni Mubarak para a transferência de poder, enquanto na Líbia juntou-se a uma campanha aérea da Otan para proteger os civis do país. No caso da Síria, Obama tem procurado manter a pressão sobre o governo para que responda positivamente à revolta, mas o resultado, até agora, é pouco promissor.

Reuters

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Jerusalém - No dia mais violento desde o início dos protestos contra o regime do ditador Bashar Assad, forças de segurança da Síria abriram fogo ontem contra manifestantes. Segundo ativistas, ao menos 88 pessoas foram mortas nas manifestações de ontem, que se espalharam pelo país. Entre os mortos encontram-se um homem de 70 anos e duas crianças de 7 e 10 anos, de acordo com a Anistia Inter­nacional.

Vídeos amadores veiculados pela rede de tevê Al Jazeera mostram manifestantes aparentemente desarmados sendo atingidos por disparos quando participavam de um protesto em Homs (oeste). Testemunhas com medo de identificar-se contaram a agências de notícias que atiradores posicionados no telhado de prédios estavam atirando contra manifestantes em Hama (centro).

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"Vi pelo menos duas pessoas serem mortas pelos atiradores’’, contou um morador de Hama à Reuters. O número de mortos deve crescer, aumentando os temores de uma explosão de violência hoje, à medida que os mortos forem enterrados.

Repressão

Na esteira das revoluções na Tunísia, Egito e Líbia, as cinco semanas de crescentes protestos e a repressão policial cada vez mais violenta colocaram contra a parede um dos regimes mais repressores do mundo árabe.

Desde o início dos protestos, contando com o dia sangrento de ontem, a estimativa é de que mais de 300 manifestantes fo­­ram mortos pelas forças de segurança. A estratégia do ditador Bashar Assad diante do maior desafio ao regime ditatorial que herdou de seu pai, Hafez, em 2000, tem sido uma combinação de concessões e coação.

Na véspera dos protestos de ontem, o governo da Síria anunciara o fim da lei de emergência em vigor há 48 anos no país, atendendo a uma das principais reivindicações dos manifestantes. "A medida é só cosmética’’, afirmou o professor Moshe Maoz, considerado o maior especialista israelense em Síria. "Assad não vai abrir mão de reprimir a oposição, pois é assim que ele mantém o controle.’’

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Estratégia

Para Maoz, é improvável que a Síria siga o mesmo roteiro da queda de Hosni Mubarak. A diferença é que no Egito a cúpula do Exército podia colocar Mubarak para fora e continuar no poder. "Na Síria, os principais comandantes são da minoria alauíta [vertente do xiismo], a mesma do presidente. Se Assad cair, eles caem juntos’’, diz Maoz.

A maioria da população síria é sunita. Embora não seja rica em petróleo, a Síria é um país-chave na geopolítica regional, pela aliança com o Irã e a influência sobre os movimentos radicais Hezbollah (Líbano) e Hamas (Gaza).