As iniciativas para erradicar a tradição da circuncisão genital feminina na África Ocidental ganharam força com uma fatwa contra a prática na Mauritânia e sanções em Níger contra as mães que obrigam suas filhas a segui-la.
Também conhecida como mutilação genital feminina (MGF), a tradição envolve a retirada de partes externas dos genitais das meninas e por vezes o estreitamento da abertura vaginal. Hemorragia, doenças e problemas para urinar e dar à luz são consequências para milhões de vítimas todos os anos na África e no Oriente Médio.
Em muitas partes da África Ocidental, a mutilação é apresentada como uma obrigação religiosa para as muçulmanas, levando muitas a acreditarem que, se não forem circuncidadas, não estarão limpas e suas orações não serão ouvidas.
"Existem textos no Corão que exigem claramente essa coisa? Não existem", disse à Reuters o secretário-geral do Fórum do Pensamento Islâmico na Mauritânia, Cheikh Ould Zein, sobre a fatwa assinada por 34 imãs e acadêmicos.
"Pelo contrário, o Islã é claro contra qualquer ação que tenha efeitos negativos sobre a saúde. Agora que os médicos da Mauritânia falam com unanimidade que essa prática ameaça a saúde, está claro que o Islã é contra ela", acrescentou.
A fatwa, que é um decreto religioso, foi assinada em 12 de janeiro, mas tornou-se conhecida de um número grande de pessoas apenas esta semana no país africano, onde se estima que cerca de 72 por cento das mulheres tenham se submetido à MGF.
"O fato de que os líderes religiosos da Mauritânia estejam se manifestando é impressionante", disse Molly Melching, diretora-executiva da Tostan, organização com sede no Senegal que trabalha com a questão da MGF na Mauritânia.
A fatwa em si não é obrigatória e não deve causar impacto nas comunidades que praticam a MGF há séculos por razões culturais não relacionadas à chegada do Islã na África.
Ainda assim, segue outras indicações de uma tendência que se move contra a MGF na África Ocidental. Num sinal de que as autoridades do Níger estão implementando uma proibição de 2003, 45 mães da cidade de Kollo, no sudoeste do país, receberam multas e sentenças de prisão de oito meses esta semana por cumplicidade ao permitir que suas filhas fossem mutiladas.
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