A "miniturnê" que a primeira-ministra britânica, Theresa May, fez nesta terça-feira (11) a fim de tentar salvar o acordo negociado por seu governo para o desligamento do Reino Unido da União Europeia (UE), o Brexit, gerou uma imagem pronta para virar meme.
Em Berlim, segunda escala do périplo, ela ficou presa por alguns instantes no banco traseiro do veículo oficial que a conduziu para um encontro com a chanceler alemã, Angela Merkel. Era uma ilustração do impasse em que May se vê.
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Depois de adiar na última hora a votação do documento pelo Parlamento britânico diante da perspectiva de uma derrota acachapante, ela prometeu buscar garantias adicionais de líderes europeus, mas ouviu deles uma sequência de "nãos" sobre a possibilidade de reabrir conversas em torno do teor do texto.
As garantias que levaram a chefe de governo a passar por Holanda (Haia), Alemanha e Bélgica (Bruxelas) em um intervalo de 12 horas são referentes ao mecanismo incluído no acerto do "divórcio" para evitar o restabelecimento de uma fronteira dura entre a República da Irlanda (integrante da UE) e a Irlanda do Norte (parte do Reino Unido) após o "brexit".
Pelos termos atuais, caso outra solução não seja encontrada até julho de 2020, quando faltarem seis meses para o fim do período de transição pós-separação, o Reino Unido entrará em uma união aduaneira provisória com o mercado comum europeu.
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O temor dos parlamentares britânicos que se opõem ao acordo é que essa "solução-tampão" se torne permanente, atando Londres à UE por anos e, assim, contrariando a vontade de deixar o bloco expressa pela maior parte do eleitorado britânico em plebiscito de 2016.
"O acordo que alcançamos é o melhor possível, o único possível", disse logo cedo ao Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França), o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. "Não há qualquer espaço para renegociação."
Porém, ele em seguida indicou que alguma concessão poderia ser feita a May para ajudá-la a tornar o documento mais palatável a seus compatriotas. "É claro que há espaço para esclarecimentos e interpretações, sem reabrir as tratativas."
Segundo Juncker, nenhuma das partes deseja que a união aduaneira seja de fato implantada, mesmo que temporariamente.
"Estamos ambos determinados a fazer tudo para não estar nessa situação, mas temos de nos preparar [para essa eventualidade]. É necessário para dar coerência ao que acordamos, para o Reino Unido e para a Irlanda, a qual nunca deixaremos sozinha."
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May repetiu esse discurso quase que palavra por palavra, após se encontrar no começo da noite, em Bruxelas, com Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu (que reúne os chefes de Estado e governo do continente).
Este escreveu numa rede social que tivera uma "conversa longa e franca" com a primeira-ministra britânica e que a UE quer ajudar. "A questão é como", completou Tusk.
Cúpula
O Conselho Europeu se reúne na próxima quinta (13) para uma cúpula de dois dias agendada há meses, e May deve voltar a Bruxelas pouco antes ou durante a reunião para pedir ajuda ao grupo do qual está se desligando.
Mais cedo na terça, Angela Merkel também descartara a reabertura das negociações sobre o acordo, mas se dispusera a ajudar May a obter as garantias complementares com que ela espera convencer o Legislativo britânico. Antes ainda, a líder conservadora se encontrou com o premiê holandês, Mark Rutte, em Haia.
Se o acordo de separação não for mesmo editado, a forma que essas garantias podem tomar é incerta.
A imprensa britânica especula que elas poderiam figurar em um adendo ao documento atual, fixando, por exemplo, que os parlamentares britânicos precisariam ratificar em votação a entrada em vigor da união aduaneira e se pronunciar anualmente sobre sua manutenção, enquanto fosse necessário.
Também na terça, o porta-voz de May anunciou que ela pretende submeter a seu Parlamento a nova versão do acordo antes de 21 de janeiro de 2019. Se nada mudar, o Reino Unido deixa a UE em 29 de março.