Curitiba Por pouco a jovem curitibana Flávia Iankilevich, 19 anos, não foi testemunha da tragédia vivida por Dana Galkovitz, uma jovem israelense morta no sul de Israel, na quinta-feira, vítima de um míssil disparado por palestinos da faixa de Gaza. Dana tinha 22 anos e estudava comunicação na Faculdade Sapir.
Recentemente, tinha terminado o serviço militar que a levara a trabalhar justamente em Gaza. Filha de uma argentina e do paulista Natan Galkovitz, Dana tinha também a cidadania brasileira, falava português fluentemente e, como tantos jovens israelenses de sua geração, planejava visitar o Brasil. A jovem foi uma das milhares de vítimas do sangrento conflito travado entre militares israelenses e terroristas palestinos, cujas motivações incluem disputa territorial, querelas demográficas, diferenças religiosas, entre outras questões.
A curitibana Flávia soube da tragédia ao desembarcar, quando voltava de Israel depois de dois anos e meio vivendo no kibutz de Bror Hail, onde Natan mora há duas décadas. Sem saber que ela viajava de volta ao Brasil, muitos amigos e parentes procuraram a família para saber notícias, atesta Joel Iankilevich, pai de Flávia. Apesar do ocorrido, a moça diz que se sente muito segura em Israel e que pretende voltar para lá algum dia.
Gazeta do Povo Quando e por que você decidiu ir para Israel?
Flávia Iankilevich Cresci aprendendo muito sobre Israel e sempre tive curiosidade de conhecer o país. Eu tinha terminado o segundo ano do ensino médio, no Positivo, quando surgiu a oportunidade de estudar lá. Era um curso de dois anos e meio. Concluí o ensino médio lá.
Você resolveu viver em lugar próximo de um território palestino, a Faixa de Gaza, em um período de violência conflagrada entre israelenses e palestinos. O medo não atrapalhou?
Tive medo, sim. Parti no dia 15 de janeiro de 2003 e na época dizia-se que haveria uma guerra entre Israel e Iraque. Todo o conflito do Iraque estava se armando. Mas, uma vez lá, a gente nota que a guerra ou o medo dela não fazem parte do dia-a-dia. As pessoas têm outra mentalidade, ouvem uma bomba e nem param o que estão fazendo.
Você também conseguiu chegar a esse patamar de abstração?
Com o tempo sim. Ultimamente, se ouvia uma explosão, eu fingia nem escutar. Na verdade, a gente deixa de notar. Mas passei por períodos complicados. Não vi violência contra ninguém próximo, mas amigos de amigos foram atingidos por ataques palestinos. De todo o modo, me sinto muito segura em Israel. Mais lá do que aqui.
A jovem morta por um míssil palestino vivia perto do kibutz de Bror Hail. Você a conheceu?
Não, não tive contato com ela, mas o irmão estudava no mesmo colégio que eu, o Shar Ahneguev. Na verdade não é só colégio. Tem um ensino que vai da educação infantil à universidade. Aliás é um ensino muito bom, que encaminha para a vida profissional. Eu, por exemplo, estudei moda.
O kibutz em que você morou parece ser muito popular entre os brasileiros. Há muita gente vivendo lá?
Nem tanto. O kibutz foi fundado por egípcios, mas tem muita gente ligada ao Brasil, de uma geração anterior à minha. Entre os mais velhos é comum encontrar pessoas que falam português. Já os jovens têm uma relação mais indereta, muitos são filhos ou netos de brasileiros. O Bror Hail fica a 11 de quilômetros da Faixa de Gaza e reúne cerca de 500 famílias. Na mesma região há outros 11 kibutzim, todos servidos pela mesma escola, que fica mais ou menos a dez minutos de onde eu morava.
Você pensa em voltar para Israel algum dia. Como os brasileiros são tratados lá?
Quero voltar, mas não tenho planos prontos. Os brasileiros são muito bem tratados lá. Nossa cultura é muito admirada e muitos jovens que saem do Exército juntam dinheiro para vir conhecer o Brasil ou outros países da América Latina. Tem muito restaurante brasileiros em Israel e todos gostam muito da nossa música. Acho que tudo isso se deve ao interesse pela diferença cultural e pela nossa alegria de viver.
Natan Galkovitz, pai de Dana, disse não apostar em paz para a geração atual. Qual é a sua opinião?
A situação melhorou muito do dia em que cheguei ao dia em que deixei Israel. A paz verdadeira exige que tanto Israel quanto os árabes cedam. Isso está ocorrendo, mas não é tão facil. Então, acho que vai ser um grande passo chegar a um ponto em que as pessoas possam viver com tranqüilidade e considero isso mais próximo.