Centenas de médicos em Quebec estão protestando contra o aumento de seus salários, afirmando que já ganham muito dinheiro. Quase 900 médicos, residentes e estudantes de medicina da província canadense haviam assinado uma petição online até esta segunda-feira (12) pedindo que seus reajustes salariais fossem cancelados. Um grupo chamado Médecins Québécois Pour le Régime (MQRP), que representa médicos e advogados do Quebec na saúde pública, iniciou a petição em 25 de fevereiro.
"Nós, médicos do Quebec que acreditamos em um sistema público forte, nos opomos aos recentes aumentos salariais negociados pelas nossas federações médicas", diz a petição escrita em francês.
O grupo de médicos disse que não poderia, em sã consciência, aceitar os aumentos salariais enquanto as condições de trabalho continuassem difíceis para outros profissionais da mesma área - incluindo enfermeiros e atendentes - e enquanto os pacientes "convivessem com a falta de acesso aos serviços por causa de cortes drásticos [na saúde] nos últimos anos".
Nos últimos meses, um sindicato de enfermeiros do Quebec tem levado o governo a enfrentar uma falta de profissionais de enfermagem, os quais lutam pela criação de uma lei para limitar o número de pacientes que podem ser atendidos por um único enfermeiro. Segundo o sindicato, os profissionais estavam sobrecarregados e fizeram vários protestos pacíficos para promover melhores condições de trabalho.
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Crítica nas redes
Em janeiro, a situação foi resumida em uma publicação viral do Facebook por uma enfermeira chamada Émilie Ricard, que publicou uma foto de si mesma, com o olhar marejado, depois do que ela disse que ter sido um plantão extenuante. Ricard disse que era a única enfermeira a cuidar de mais de 70 pacientes no andar do hospital onde trabalha. Ela estava tão estressada que tinha cãibras que a impediam de dormir.
"Esta é a face da enfermagem", escreveu Ricard, criticando o ministro da Saúde do Québec, Gaétan Barrette, que considerou as recentes mudanças no sistema de saúde um sucesso.
"Não sei onde você buscou suas informações, mas elas não representam a realidade da enfermagem", escreveu a enfermeira. Ela acrescentou mais tarde: "Estou desolada pela minha profissão, tenho vergonha da pobreza dos cuidados que presto na medida do possível. Meu sistema de saúde está doente e morrendo".
A publicação de Ricard já foi compartilhada mais de 55.000 vezes.
“Sempre há dinheiro para os médicos, mas e os outros que cuidam dos pacientes?" disse Nancy Bédard, presidente do sindicato de enfermagem do Quebec.
Salários
Enquanto isso, em fevereiro, a federação de especialistas médicos do Quebec chegou a um acordo com o governo para aumentar os salários anuais dos 10 mil especialistas médicos da província em cerca de 1,4%, ou de US $ 4,7 bilhões para US $ 5,4 bilhões em 2023, conforme informou a Canadian Broadcasting Corporation, rede pública de televisão do Canadá. O salário médio para um especialista em Quebec já é alto - US$ 403.537 por ano - em comparação com os US$ 367.154 pagos aos médicos na província vizinha de Ontário.
"A única coisa que parece ser imune aos cortes [do sistema de saúde] são os nossos salários", afirmou a petição do MQRP, o grupo de médicos.
"Ao contrário das declarações do primeiro-ministro, acreditamos que existe uma maneira de redistribuir os recursos do sistema de saúde do Quebec para promover a saúde da população e atender às necessidades dos pacientes sem pressionar os trabalhadores".
O documento termina pedindo que os aumentos salariais sejam cancelados e que o dinheiro seja redistribuído em todo o sistema de saúde do Quebec.
Não está claro o que será da petição. Barrette, o ministro da saúde, abordou a questão pouco depois de a iniciativa ter começado. "Se eles acham que são pagos em excesso, eles podem deixar o dinheiro na mesa", ele disse em 26 de fevereiro. "Eu garanto-lhe que posso fazer bom uso dele".
Barrette também disse que a questão das condições de trabalho para o pessoal médico, como os enfermeiros, era algo "que devia ter nossa atenção total", de acordo com o Toronto Star. "Temos o dinheiro para lidar com isso", disse ele ao jornal. "Isso não significa que temos montantes infinitos de dinheiro, mas temos a capacidade de resolver essa questão de uma vez por todas".