Apesar de ser um dos procedimentos cirúrgicos mais comuns (principalmente no Brasil), os médicos ainda não têm um consenso sobre qual a melhor técnica para realizar uma cesariana. O alerta vem de uma revisão sobre o conhecimento da medicina no assunto, feito pela organização Colaboração Cochrane especializada nesse tipo de trabalho.
"Há uma falta de informação de alta qualidade sobre a melhor prática", afirmou Simon Gates, da Universidade de Warwick, no Reino Unido, autor do levantamento. Gates analisou 15 pesquisas, que envolveram 3.972 mulheres que passaram por cesarianas e encontrou poucas conclusões significativas.
O médico brasileiro Paulo Basto Albuquerque, professor de obstetrícia no Hospital Universitário da USP (Universidade de São Paulo), concorda que o problema existe. "A decisão sobre a melhor técnica de incisão ou de sutura é, no fim, uma decisão pessoal do médico e depende de sua prática ou experiência", criticou ele ao G1.
Albuquerque explica que enquanto alguns médicos fazem a cesárea "à moda antiga", ou seja, com bisturi cortando tudo, outros preferem a chamada "cesariana minimamente invasiva", onde alguns tecidos são partidos pela própria mão do médico. Segundo eles, a prática é menos agressiva e facilita a recuperação.
Na hora de fechar o corte, as diferenças vão ainda além. Alguns médicos preferem dar, internamente, pontos separados (aquele mesmo que você vê do lado de fora de um corte, vários "x" separadinhos), enquanto outros preferem fazer uma costura só (como o que se usa, por exemplo, para fazer a barra de uma calça). E há mais: alguns cirurgiões preferem não dar pontos no peritônio, uma membrana em duas camadas que recobre o abdômen outros fazem questão de costurar a região.
Embora os médicos digam que não há grande diferença prática entre cada técnica, Gates reclama que simplesmente não se sabe isso, por falta de estudos que tragam resultados formais. O pesquisador diz não ter encontrado dados importantes, como diferenças nas taxas de infecção e complicações pós-operatórias com as diferentes técnicas usadas para fechar o corte. Os dados eram ainda piores quando o assunto eram as incisões.
"Mais pesquisas em técnicas de cesariana precisam focar nos métodos mais adequados para incisão e fechamento uterino. Precisamos de mais estudos que abordam as conseqüências mais importantes, como dor, infecções e complicações", diz Gates.
Melhor é natural
Para o brasileiro Basto Alburquerque, os resultados da Colaboração Cochrane só reforçam a crença de que a cesariana deve ser evitada em mulheres saudáveis com condições normais para o parto. "A cesariana é a cirurgia com maior risco de infecção. O médico tem que colocar a mão inteira lá dentro, o tecido do aparelho genital sobe para a barriga. O risco é muito grande", diz ele.
O também obstetra Cláudio Bonduki, da Unifesp (Universidade Federal Paulista), concorda. "A cesareana é para casos específicos, onde há risco para vida da mãe ou do bebê. O melhor é sempre o parto normal", diz ele.
Para as mulheres que temem a dor do parto normal, Albuquerque lembra que, ao contrário do que os filmes mostram, há anestesias bastante eficientes mesmo durante o nascimento natural. "Acabei de fazer um parto normal e a mulher foi andando para a sala de cirurgia", conta.
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