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Para o jornalista Reese Erlich, autor do livro Dateline Havana – A real história da política dos EUA e o futuro de Cuba ("dateline" refere-se à cidade onde uma reportagem é escrita), lançado no fim do ano passado, a abertura norte-americana em relação a Cuba, anunciada ontem, é insuficiente. Erlich, que vive nos EUA, afirma ainda que a política de Washington é hipócrita, alegando que os norte-americanos mantêm relações com ditaduras na África e na Ásia, mas não com Cuba. Confira trechos da entrevista concedida à Gazeta do Povo, por telefone:

Como o senhor avalia as medidas anunciadas ontem pelo governo norte-americano?

É positivo que Obama cumpra o que prometeu na campanha, mas não é o suficiente. Será preciso colocar mais pressão para que ele faça mudanças significativas, de forma que americanos possam viajar a Cuba (a medida autoriza apenas familiares de cubanos). Quando isso acontecer, muitos, mas muitos mesmo, irão.

Cuba irá tirar proveito das novas medidas?

A maior vantagem é para os cubanos americanos, que poderão enviar dinheiro para os parentes.

É provável que o regime interfira com esse dinheiro?

Pela minha experiência, o dinheiro chega até as pessoas, e elas gastam como querem. Mas o governo cobra uma taxa de 10% sobre cada dólar que entra. É uma forma de se vingar da política americana.

Uma das medidas autoriza o envio de celulares. Nisso o governo poderá interferir?

Essa já foi uma das maiores piadas do governo Bush: permitir o envio de celulares a Cuba, onde há outro sistema de telefonia.

Cuba ainda ameaça os EUA?

Eu entrevistei oficiais do Pentágono que disseram que Cuba não representa ameaça estratégica há muitos anos.

Qual a justificativa para o embargo econômico?

Há duas versões oficiais: a de que o regime cubano precisa pagar pelas empresas norte-americanas que confiscou (durante a Revolução) e que esta é uma pressão para que Cuba se torne democrática. Mas, em relação à primeira, é preciso dizer que foram afetadas apenas grandes empresas, não pequenos proprietários. E com relação à democracia, os EUA têm relações diplomáticas com Arábia Saudita (de regime absolutista) e ditaduras da África e Ásia, assim como teve com a ditadura militar do Brasil. O embargo é hipócrita, os EUA não têm interesse em que haja democracia em Cuba.

A maioria dos cubanos anseia pela abertura?

O regime tem um apoio muito substancial. Ninguém sabe exatamente qual a porcentagem. Ao mesmo tempo há muitos que sairiam da ilha assim que fosse possível. E há aqueles no meio. A maioria dos cubanos reclama da economia.

Não reclamam das restrições alimentares?

Eu estive em favelas do Rio e de São Paulo e a pobreza lá é bem pior. Pessoas sem atendimento médico, sem trabalho. Isso não se vê em Cuba. Mesmo sendo bem pobres, é uma situação diferente de outros locais na América do Sul. Ninguém está faminto, mas alguns não têm o suficiente.

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