As políticas do medo estão alimentando abusos a direitos humanos e criando um mundo perigosamente dividido, disse a Anistia Internacional em uma sombria avaliação divulgada nesta quarta-feira sobre "O Estado dos Direitos Humanos no Mundo" - o que inclui menções à violência no Brasil. Corrupção política e mau uso de verbas públicas no país comprometeram a capacidade das autoridades brasileiras de garantir os direitos humanos da população, segundo o relatório. No documento, a equipe também faz acusações sobre o desrespeito aos direitos humanos nos EUA.
- Nosso mundo está tão polarizado quanto estava no auge da Guerra Fria, e de muitas formas é muito mais perigoso - disse Irene Khan, secretária-geral da entidade de defesa dos direitos humanos.
A leitura do relatório é cheia de dados perturbadores -como a perseguição a escritores na Turquia e o assassinato de militantes de esquerda nas Filipinas. Apesar de acreditar que o medo tem sido um fator positivo para motivar mudanças a respeito do aquecimento global, pois, ainda que tardiamente, os políticos foram pressionados a agir pela opinião pública, a secretária-geral da Anistia afirmou que o medo também está sendo usado para retirar direitos das pessoas, tudo em nome de uma maior segurança.
- As políticas do medo estão alimentando uma espiral de abusos de direitos humanos, em que nenhum direito é sacrossanto - observou Khan no relatório da ONG, que reúne 2,2 milhões de membros em mais de 150 países.
"O duplo discurso do governo dos EUA tem sido uma sem-vergonhice"
A Anistia acusou vários governos, dos EUA ao Zimbábue, de desrespeitarem os direitos humanos e alimentarem o racismo com políticas míopes, que promovem o medo e a divisão. O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, usou os temores raciais para impor sua própria agenda política e confiscar terras para seus seguidores, segundo o relatório. Já o presidente americano, George W. Bush, foi citado porevocar o medo do terrorismo para fortalecer seus poderes. "O duplo discurso do governo dos EUA tem sido de uma sem-vergonhice de tirar o fôlego", afirma o relatório.
- A 'guerra ao terror' e a guerra no Iraque, com seu catálogo de abusos aos direitos humanos, criaram profundas divisões que lançam uma sombra sobre as relações internacionais - disse a secretária-geral da Anistia.
O texto também acusa o governo sudanês de ter deixado a ONU de mãos atadas a respeito do conflito na região de Darfur, onde 200 mil pessoas já morreram. "Darfur é uma ferida que sangra na consciência do mundo", afirma o relatório.
Extremismos
O documento diz ainda que a crescente polarização fortalece extremistas, ajudando também a islamofobia e o anti-semitismo. O medo, afirma a ONG, alimenta o descontentamento e a discriminação.
O relatório, porém, termina em tom otimista, argumentando que os direitos humanos podem ser tratados com tanta eficácia quanto o aquecimento global caso a opinião pública do planeta esteja voltada para isso. A Anistia acredita que a Internet está se tornando uma nova fronteira para a luta pelo direito de discordar do governo em países como Colômbia, Cuba, Camboja ou Uzbequistão.
- O poder do povo vai mudar o rosto dos direitos humanos no século 21. A esperança está vivíssima - afirmou a secretária-geral.
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