A Rússia precisa ir além do legado industrial da União Soviética e desenvolver uma economia moderna, voltada pra a alta tecnologia, para sobreviver, disse o presidente Dmitry Medvedev em seu discurso anual sobre o Estado da União. Ele observou que a Rússia continua extremamente dependente da base industrial soviética e das receitas com as exportações de gás e petróleo. "O prestígio e o bem-estar da nação não podem depender para sempre das conquistas do passado", afirmou.
O líder russo ordenou também uma abrangente modernização dos obsoletos arsenais militares soviéticos e defendeu uma política externa destinada à atração de investimentos estrangeiros e à melhora do padrão de vida da população russa.
Os planos de Medvedev, que têm como objetivo reduzir a participação do governo na economia, teria como alvo as "corporações estatais" a ele legadas por seu antecessor, o hoje primeiro-ministro Vladimir Putin, avalia a agência Dow Jones. Calcula-se que o Estado russo controle cerca de 40% da economia do país.
"Não devemos estufar nosso peito", declarou Medvedev em um enfeitado salão do Kremlin perante parlamentares e funcionários do alto escalão do governo, segundo relato da Associated Press. "Estamos interessados em fluxo de capitais, novas tecnologias e ideias modernas."
Segundo o presidente russo, os anos de alta nos preços do petróleo criaram a ilusão de que as reformas estruturais das quais o país necessita poderiam esperar um pouco mais. "Nós não podemos esperar mais", enfatizou. "Precisamos lançar a modernização e a renovação de toda a base industrial. A sobrevivência de nossa nação no mundo moderno dependerá disso."
Para Medvedev, a Rússia precisa concentrar-se em campos inovadores, inclusive na pesquisa de novos reatores nucleares e de tecnologias espaciais e pensar em se preparar para voos a outros planetas.
Medvedev afirmou também, segundo destacou a agência Lusa, que a modernização da Rússia no século 21 se baseará nos valores e institutos da democracia. "No século 21, nosso país necessita novamente de uma modernização multilateral e esta será a primeira experiência de modernização, na nossa história, baseada nos valores e institutos da democracia", explicou o dirigente russo.
"A sociedade arcaica", prosseguiu Medvedev, "em que os chefes pensam e decidem por todos, deve ser substituída por uma sociedade de pessoas inteligentes, livres e responsáveis".
Medvedev defendeu ainda que a política externa russa seja mais pragmática, em vez de apegada a "ações caóticas guiadas por nostalgia e preconceito". "Sua eficácia deve ser determinada por um critério simples: se está ajudando ou não a melhorar o padrão de vida", declarou o presidente.
O chefe de Estado russo também observou que a crise econômica atingiu seu país com mais intensidade do que outros, mas recusou-se a jogar a culpa nos Estados Unidos, ao contrário do que fez Putin recentemente. "Não devemos buscar um culpado no exterior", declarou. "Nós não fizemos o bastante", admitiu.
Nesta quinta-feira, o Serviço Federal de Estatísticas da Rússia informou que a economia do país encolheu 8,9% na comparação ano a ano no terceiro trimestre de 2009, menos do que o esperado. O Ministério do Desenvolvimento Econômico havia previsto anteriormente contração de 9,4% para o Produto Interno Bruto (PIB) no período.
Ainda segundo Medvedev, o governo deveria ajudar somente as empresas que tenham planos de tornarem-se mais eficientes. Ao longo do último ano, a Rússia destinou mais de 1 trilhão de rublos (US$ 34,8 bilhões) para sustentar pouco mais de uma dezena de indústrias com problemas financeiros.