Imagem tirada da internet mostra manifestantes sírios tentando se proteger de gás lacrimogêneo, em um subúrbio de Damasco| Foto: Reuters

Tensão

Missão árabe é tratada com desconfiança

A missão regional de monitoramento tem despertado ceticismo por causa da sua dimensão limitada, da sua composição e do fato de depender da logística do governo sírio. O desconforto da oposição com a missão se agravou depois de uma declaração do chefe dos monitores, um general sudanês, que disse ter tido uma primeira impressão "tranquilizadora".

O general sudanês Mustafa al Dabi, líder da missão árabe, é acusado de ligação com crimes de guerra ocorridos na década de 1990 na região de Darfur. Ele fez na terça-feira uma rápida visita à cidade de Homs, epicentro dos confrontos, e disse não ter visto "nada de assustador".

Repressão

Vídeos gravados por ativistas em Homs nos últimos meses mostram imagens de morte e destruição deixados pela repressão militar, e ativistas dizem que centenas de pessoas morreram na cidade nos últimos meses.

Não é possível verificar de forma independente esses relatos, uma vez que o governo sírio expulsou a maior parte dos correspondentes estrangeiros do país.

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Estimativas de ONGs internacionais como a Avaaz, que mantém ativistas na Síria, e o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, com sede em Londres, estimam que ao menos 35 pessoas morreram ontem durante confrontos pelo país. Mais de meio milhão de civis foram às ruas, sendo 100 mil somente na cidade de Homs.

"Esta sexta é diferente de ou­­tras sextas. É um passo transformador. As pessoas estão ansiosas em alcançar os monitores e contar seu sofrimento a eles", disse o ativista Abu Hisham em Hama.

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Um vídeo divulgado por ativistas no YouTube mostra a delegação da Liga Árabe cercada por milhares de manifestantes na província de Idlib.

O Exército Livre Sírio, grupo armado de oposição ao regime de Bashar Assad, ordenou que suas forças interrompam as ações ofensivas enquanto esperam uma reunião com a delegação da Liga Árabe que monitora a implementação de um plano de paz no país, informou ontem o comandante dos rebeldes.

O coronel Riad al Assad disse que suas forças por enquanto não puderam conversar com os observadores da Liga, e que ele está buscando um contato urgente. A de­­legação estrangeira chegou na semana passada à Síria para uma missão de um mês.

Fúria

Um observador da Liga Árabe disse ontem à multidão enfurecida na Síria que o trabalho de sua equipe é apenas observar, e não ajudá-los a retirar do poder o di­­tador Bashar Assad, contra o qual se rebelam há nove meses, conforme reportagem da emissora Al Jazeera.

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"Nosso objetivo é observar, não é remover o presidente, nosso objetivo é devolver paz e segurança à Síria", afirmou ele, usando um alto-falante a partir do pódio de uma mesquita lotada de manifestantes no subúrbio de Douma, em Damasco.

O observador, que não falou seu nome, prometeu divulgar o sofrimento dos manifestantes. Um grupo de cerca de 60 observadores, de um total de 150, já chegou ao país. A equipe deve inspecionar a Síria ao longo de aproximadamente um mês. Eles verificarão se as forças de Assad estão implementando um plano de paz que prevê o fim da repressão contra a revolta antigoverno.

Ativistas dizem acreditar que muitos observadores são pró-go­­verno ou acreditam que é muito difícil se comunicar com o grupo longe de acompanhantes do go­­verno. Dentro da mesquita de Dou­­ma, a multidão parecia suspeitar dos observadores.

Um orador da mesquita tentou acalmar o público, pedindo que deixassem o observador falar. Mas um homem rompeu o silêncio, gritando: "Meu filho é um mártir, eles o mataram", puxando a cantoria de "Com sangue e alma, nós redimiremos os mártires".

Missão

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O observador, que pediu ao pú­­blico que não o filmassem, embora sua imagem tenha sido transmitida ao vivo pela Al Jaze­­era, afirmou: "Nós, como monitores, não deveríamos falar, mas a situação me forçou a dizer algo: estamos monitorando os elementos de um protocolo assinado entre a Liga Árabe e o governo. Esta é uma mis­­são humanitária para transmitir os problemas existentes e solucionar a crise", disse.

O protocolo exige que as forças sírias retirem-se das cidades e li­­bertem os prisioneiros, que se calcula que sejam milhares.

Mais de 5 mil pessoas já morreram na tentativa do governo de acabar com os protestos.