Há duas semanas, a brasileira Ozana Rodrigues recebeu a notícia que temia há algum tempo, de que seu filho, Brian de Mulder, havia falecido. A informação foi dada por Sara, a mulher com quem Mulder se casou na Síria, depois de ter se unido aos jihadistas do Estado Islâmico e ficar conhecido como Abu Qassem Brazili (“Abu Qassem Brasileiro”, em árabe).
O jihadista, de 21 anos, tinha nacionalidade belga.
A mãe não quis acreditar, mesmo com a foto do corpo enviada para irmã mais velha do jovem, Bruna Rodrigues. Mas, na quarta-feira (18), agentes da Polícia Federal bateram na casa dela, confirmando a triste história.
“Estou péssima. É verdade, tudo consta que seja verdade. Há duas semanas, começaram a falar, mandaram uma foto, e ontem a polícia federal esteve aqui para contar que meu filho faleceu”, contou ela por telefone, com a voz embargada.
Natural de Silva Jardim, no estado do Rio, Ozana não sabe detalhes da morte de Brian, nem tem interesse. Só soube dizer que o jovem estava em algum local da Síria alvo de bombardeios, e estilhaços de vidros entraram no seu corpo. Ele passou três semanas hospitalizado, mas não resistiu aos ferimentos.
A mãe, no entanto, tem outra versão para os fatos: os próprios jihadistas o mataram, depois de ele se recusado a amarrar uma bomba ao redor do corpo.
Último encontro
A mãe nem lembra a última vez que falou com o filho e diz que queria ter tido a oportunidade de conversar com ele antes de ele falecer. Ela também lamentou o fato de não conseguir enterrá-lo.
“Eu tinha esperança de que ia vê-lo mais uma vez, vivo ou morto, mas isso não vai ocorrer, porque eles enterram as pessoas como animais lá na Síria”, diz Ozana.
Agora, ela se mostra preocupada com a neta, Aisha, um bebê de nove meses que nasceu em meio à guerra na Síria, fruto do relacionamento de Brian e Sara. A mulher, inclusive, estaria grávida de um segundo filho.
“Eu vi fotos, ela (Aisha) tem os traços do Brian, da minha família. Mas temo pelo futuro dela e peço a Deus que a leve para o paraíso o mais rápido possível. Naquele país, eles obrigam as meninas com seis anos a se casarem”, conta.
A família de Ozana, que já estava desestruturada depois que Brian viajou para a Síria há quase três anos, agora vive um momento ainda mais difícil. A brasileira relata que está à base de remédio, a filha mais nova, de 14 anos, reagiu de forma agressiva à notícia e foi levada por um juizado porque a mãe não tem condições de cuidar dela. A irmã mais velha passa por um tratamento psiquiátrico e as pessoas temem que o pai “faça uma loucura”.
Enquanto a mãe tenta digerir a notícia e achar uma razão para viver, ela não esquece as boas lembranças que tem do filho. “Acredito que ele vai pro céu, porque eu só conto o tempo que ele passou comigo, em que era um bom menino”, diz.