O líder de uma milícia armada que patrulha a fronteira sul dos Estados Unidos em busca de imigrantes em situação irregular afirmou que seu grupo estava em treinamento para assassinar Barack Obama, Hillary Clinton e o bilionário doador democrata George Soros, disse o FBI.
Larry Mitchell Hopkins compareceu na segunda-feira (22) no Tribunal Distrital dos EUA no Novo México, dias depois de um vídeo que mostra o grupo detendo migrantes provocar indignação. O homem de 69 anos foi preso no sábado em Sunland Park, Novo México, sob a acusação de ser um criminoso em posse de armas de fogo e munição.
As acusações resultam de um incidente em 2017, quando o FBI recebeu uma denúncia de que ele estava ligado à "suposta atividade extremista de milícia" e encontrou nove armas em sua casa, incluindo uma escopeta de calibre 12, fuzis e pistolas. Hopkins afirmou que as armas pertenciam a uma mulher com quem ele estava vivendo, disse o FBI em documentos judiciais revelados recentemente.
Sua advogada, Kelly O'Connell, ex-apresentadora de uma rádio conservadora do Novo México, questionou o momento das acusações contra seu cliente.
"O ponto principal é que isso tem nada a ver com qualquer coisa na fronteira", disse O'Connell. "Se era uma acusação muito séria, digna de processo e encarceramento, por que não agir imediatamente?" Ela disse à Reuters que seu cliente pretende se declarar inocente.
Elizabeth Martinez, uma porta-voz da procuradoria dos EUA no Novo México, se recusou a comentar sobre o atraso na acusação de Hopkins.
Patrulhas
As patrulhas lideradas por cidadãos foram estimuladas por um surto recente de caravanas de migrantes da América Central e foram encorajadas pela afirmação do presidente Donald Trump de que as chegadas constituem uma "invasão".
Hopkins lidera a chamada United Constitutional Patriots, ou UCP (Patriotas Constitucionais Unidos), uma das várias milícias que patrulham a fronteira entre os EUA e o México. O objetivo declarado do grupo é "defender a Constituição dos Estados Unidos da América" e proteger os direitos dos cidadãos "contra todos os inimigos, estrangeiros e domésticos" – o que replica o juramento dos membros do exército dos EUA.
O UCP chamou a atenção do público este mês após o surgimento de vídeos que mostram homens parando e detendo pessoas que cruzavam a fronteira.
Um vídeo de 16 de abril, que foi postado no Facebook por uma mulher chamada Debbie Collins Farnsworth, mostrava um grande grupo de migrantes, incluindo várias crianças, ajoelhados no chão na escuridão total, alguns dos rostos iluminados por lanternas.
"Isso é loucura! É totalmente louco", uma voz que parecia ser de Farnsworth narrava enquanto a câmera circulava pelo grupo, afirmando que eram "centenas" de pessoas. "Eu não sei o que dizer sobre isso, além de que isso tem que parar", disse ela.
Em um momento do vídeo de 45 minutos, oficiais da Patrulha da Fronteira chegaram e ordenaram aos migrantes que se sentassem e depois os disseram para começar a andar.
Enquanto os migrantes eram levados durante a noite, os adultos seguravam as mãos das crianças. "Viu como eles seguram seus filhos? Eu não acho que esses são seus filhos, honestamente", continuou a narradora. "Eles apertam os pulsos. É uma loucura."
O vídeo acumulou mais de 100.000 visualizações e 2.700 compartilhamentos até o final da tarde de domingo.
Vigilantes
A milícia continuou afirmando que as suas ações eram legais, embora o chefe de polícia de Sunland Park, Javier Guerra, tenha dito ao BuzzFeed News que ele explicitamente informou ao grupo que as ações não são legais.
A seção do Novo México da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) enviou uma carta à governadora do estado, Michelle Lujan Grisham, uma democrata, e ao procurador-geral, Hector Balderas, exigindo que investigassem o UCP e as ações que foram gravadas no vídeo de 16 de abril.
"Não podemos permitir que vigilantes racistas e armados sequestrem e detenham pessoas que buscam asilo", disse a carta. "Nós pedimos que vocês investiguem imediatamente esta conduta atroz e ilegal."
"A aplicação da lei pertence estritamente às mãos de profissionais treinados", disse Peter Simonson, diretor da ACLU no Novo México. Ele disse que seu grupo alertou as autoridades por medo de que os membros da milícia armada prejudicassem os migrantes.
Na sexta-feira, a governadora disse que as ações da milícia são "absolutamente inaceitáveis". "Este é um criminoso perigoso que não deveria ter armas perto de crianças e famílias", disse Balderas, o procurador geral do estado, em um comunicado após a prisão de Hopkins. Ele disse que a prisão "indica claramente que o estado de direito deve estar nas mãos de agentes policiais treinados, não de vigilantes".
Acusações
Esta não é a primeira vez que Hopkins enfrenta uma acusação de porte de armas.
Em 2006, ele foi preso no estado do Oregon sob a acusação de se passar por policial e ser um criminoso de posse de uma arma de fogo, de acordo com um relatório do incidente. O relatório afirma que Hopkins foi visto em um posto de gasolina em Keno, Oregon, perto da fronteira da Califórnia, mostrando armas de fogo para um grupo de crianças e dizendo-lhes que ele era um policial.
Um representante do xerife do condado de Klamath escreveu no relatório do incidente que "observou que Larry Hopkins usava uma camisa preta estilo uniforme e calças pretas. Hopkins tinha um distintivo semelhante a um distintivo de policial no seu peito esquerdo na área em que um policial usaria o seu distintivo. Hopkins usava duas estrelas douradas, o que geralmente é um sinal de patente. Hopkins tinha vários broches militares ou policiais em toda a sua camisa".
Hopkins foi indiciado em uma acusação por se passar por policial e duas acusações por ser um criminoso em posse de arma de fogo, mas, no final, não cumpriu uma sentença, de acordo com o SPLC.
Resposta do grupo
Após a prisão de Hopkins no fim de semana, um dos membros da milícia, Jim Benvie, abordou as recentes acusações em um vídeo ao vivo no Facebook, dizendo que a milícia não estava violando nenhuma lei e que Hopkins seria exonerado.
Ele afirmou que Hopkins foi "incriminado" por Grisham e Balderas com base nas "alegações falsas e infundadas contra o grupo" da ACLU.
"Este foi o primeiro ataque deles", disse Benvie. "Eles querem criar uma narrativa de que há um monte de criminosos imprudentes na fronteira."
O UCP não respondeu aos pedidos do Washington Post por comentários.
Um porta-voz da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA distanciou a agência da milícia em uma declaração ao jornal, dizendo que a agência "não endossa grupos ou organizações privadas que tomam as medidas de fiscalização em suas próprias mãos" e advertindo que "a interferência de civis em questões legais pode ter consequências legais e para a segurança pública para todas as partes envolvidas".
No entanto, alguns dos vídeos do grupo mostraram agentes da Patrulha da Fronteira chegando para levar migrantes que foram parados por membros da milícia. Um membro da milícia, Mark Cheney, disse ao BuzzFeed News que os oficiais da Patrulha de Fronteira estão "felizes por estarmos aqui... Temos uma linha direta com o posto local".