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Um editorial em um site de notícias estatal da China defendeu que membros do Partido Comunista Chinês têm a obrigação pessoal de ter três filhos, para o bem do país, que tem enfrentado a queda dos índices de natalidade.
O artigo de opinião foi publicado no mês passado no site oficial de notícias China Reports Network, mas ganhou ampla repercussão nas redes sociais nesta semana.
"Nenhum membro do partido deve ter qualquer desculpa, objetiva ou pessoal, para não casar ou ter filhos, e nem podem usar qualquer desculpa para ter apenas um ou dois filhos", dizia o editorial, que foi apagado do site desde que viralizou nas redes, segundo o South China Morning Post.
O texto dizia ainda que cada membro do PCCh - cerca de 95 milhões de pessoas - "deve tomar para si a responsabilidade e obrigação pelo crescimento populacional do país e atuar na política de três filhos".
Imagens do artigo e uma hashtag relacionada foram compartilhadas milhões de vezes no Weibo, a versão chinesa do Twitter. Os usuários manifestaram indignação com o teor do artigo, com muitos citando a Lei de Proteção de Direitos e Interesses das Mulheres, que estipula que os indivíduos têm a liberdade de optar por não ter filhos, segundo noticiou o SCMP, site de notícias baseado em Hong Kong.
Autoridades chinesas estão preocupadas com a crise de população do país, e têm incentivado os governos regionais a elaborar políticas para combater as taxas decrescentes de fertilidade e o rápido envelhecimento da população.
Mais de 18% da população da China tem mais de 60 anos, de acordo com o censo de 2020. Dados oficiais de novembro apontam que houve 8,5 nascimentos para cada mil pessoas em 2020, a primeira vez em décadas que a taxa fica abaixo de 10. O número total de nascimentos em 2020 foi de 12 milhões, uma baixa recorde. A taxa de fertilidade no mesmo ano foi de 1,3 filho por mulher.
A China encerrou a sua política de dois filhos que estava em vigor desde 2016, permitindo que os casais tenham três filhos. Anteriormente, a política de filho único do país, estabelecida em 1980, punia quem desobedecesse as regras com multas e até mesmo abortos forçados.
Vasectomias limitadas
Em uma tentativa de combater o rápido declínio populacional, a China aparentemente tem limitado o acesso a vasectomias, segundo uma reportagem do Washington Post publicada na quinta-feira.
Doze hospitais públicos ouvidos pelo jornal americano disseram que não fazem mais o procedimento médico, que impede que homens tenham filhos. Outros seis hospitais consultados informaram que ainda oferecem o procedimento, mas apenas para homens casados.
Vários casais e homens solteiros relataram ao jornal que tiveram seus pedidos de vasectomia recusados por médicos, que muitas vezes exigiam provas de que os casais já tinham filhos antes de aprovar o pedido.
"É uma cirurgia simples na teoria, mas hospitais públicos quase sempre recusam os pacientes porque estamos cientes dos riscos envolvidos ao fazer algo que não tem a aprovação explícita do governo", disse um diretor de hospital na província de Hubei ao Post. "A política fundamental é que a China precisa de mais nascimentos".
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