O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski (esq.), e o presidente dos EUA, Donald Trump, em encontro em Nova York, 25 de setembro de 2019, às margens da Assembleia Geral da ONU.| Foto: Saul Loeb/AFP

Na noite de quinta-feira (3), investigadores da Câmara dos Deputados dos EUA divulgaram documentos que mostram que diplomatas americanos teriam reforçado o pedido do presidente Donald Trump para que a Ucrânia investigasse as atividades do filho do pré-candidato democrata Joe Biden em uma empresa do país.

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Nas mensagens de texto divulgadas, o diplomata veterano William "Bill" Taylor parecia querer deixar a situação registrada. Ele tinha boas razões para fazer isso.

"Como eu disse ao telefone, acho uma loucura reter a assistência de segurança para obter ajuda em uma campanha política", escreveu Taylor ao embaixador dos EUA na União Europeia, Gordon Sondland, em 9 de setembro.

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Ele estava reclamando que a ordem do presidente Donald Trump de reter a ajuda militar aprovada pelo Congresso para a Ucrânia estava criando um "cenário de pesadelo".

No dia anterior, em outra mensagem de texto, Taylor insinuou que ele poderia renunciar depois de falar por telefone com Sondland, um dos principais doadores do partido Republicano e proprietário de vários hotéis de luxo que foi nomeado após doar um milhão de dólares ao comitê de posse de Trump.

Taylor assumiu o cargo de encarregado de negócios na embaixada dos EUA na Ucrânia em junho, depois que Trump supostamente ordenou a saída da embaixadora anterior a pedido de seu advogado Rudy Giuliani. Esta é sua segunda missão em Kiev. George W. Bush o nomeou embaixador em 2006, e ele permaneceu até o outono de 2009.

Em 1º de setembro, o dia em que o vice-presidente Mike Pence se encontrou com o presidente ucraniano Volodimir Zelensky em Varsóvia, Taylor mandou uma mensagem para Sondland: "Estamos dizendo agora que a ajuda de segurança e a reunião [na Casa Branca] estão condicionadas a investigações?"

Sondland poderia ter dito não. Em vez disso, ele continuou a conversa offline. "Ligue para mim", ele escreveu.

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Kurt Volker, enviado especial de Trump para a Ucrânia até sua renúncia na sexta-feira passada, forneceu esses e outros registros eletrônicos aos investigadores da Câmara durante um depoimento na quinta-feira que durou quase 10 horas. A maior novidade das mensagens é que altos funcionários do Departamento de Estado trabalharam em coordenação com o principal assessor do presidente ucraniano e o advogado pessoal de Trump para promover uma cúpula em potencial entre os chefes de estado sob uma promessa dos ucranianos de anunciar publicamente que eles investigariam a eleição dos EUA de 2016 e uma empresa de energia que empregava o filho do candidato democrata para 2020 Joe Biden.

Mas as mensagens de Taylor, que refletem profundo desconforto com o que estava acontecendo, não devem ser desconsideradas. Elas garantem que ele será uma testemunha no inquérito de impeachment da Câmara.

Em 21 de julho, antes do telefonema de Trump com Zelensky, Taylor mandou uma mensagem para Sondland dizendo que Zelensky estava "sensível ao fato de a Ucrânia ser levada a sério, não apenas como um instrumento na política doméstica e de reeleição de Washington". Sondland respondeu que estava "preocupado com a alternativa" se Trump e Zelensky não se falassem para "iniciar a conversa e construir o relacionamento". Volker havia dito a Sondland dois dias antes que era muito importante que Zelensky dissesse a Trump que ele ajudaria na investigação.

Após a mensagem de Taylor em 9 de setembro, na qual ele reiterou um argumento que disse ter feito anteriormente por telefone, Sondland esperou mais de quatro horas e meia para responder. De repente, o que até então era uma conversa casual e em tom mais leve em mensagens anteriores tornou-se rígido e formal.

"Bill, acredito que você está incorreto sobre as intenções do presidente Trump", escreveu Sondland. "O presidente deixou claro que não há nenhum tipo de toma-lá-dá-cá. O presidente está tentando avaliar se a Ucrânia realmente adotará a transparência e as reformas que o presidente Zelensky prometeu durante sua campanha".

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Em seguida, o embaixador de Trump na União Europeia disse que eles deveriam "parar com a conversa por texto".

"Se você ainda tem preocupações", acrescentou Sondland, Taylor deveria ligar para "S" - que é como as pessoas do departamento se referem ao secretário de Estado Mike Pompeo - ou Lisa Kenna, uma das principais assessoras do secretário. "Obrigado."

E essa é a mensagem final de Sondland no documento de 25 páginas divulgado quinta-feira pelos presidentes democratas de três comissões da Câmara.

Através de seu advogado, Sondland se recusou a comentar.