Presidentes e representantes dos países do Mercosul em foto oficial na reunião de cúpula realizada em junho: mesmo com discurso de integração, é difícil acertar os ponteiros na economia| Foto: Roberto Stuckert Filho/Presidência da República

Tentativas de Integração

Veja algumas das organizações que reúnem países da América do Sul e da América Latina:

Associação Latino-Americana de Integração (Aladi)

Reúne 12 países da América Latina, tem como intuito promover uma área de preferências econômicas para, então, conseguir chegar a um mercado comum latino-americano.

União das Nações Sul-Americanas (Unasul)

Composta por 12 países da América do Sul, entrou em vigor em março deste ano. Tem como objetivo promover articulação no âmbito cultural, social, econômico e político entre os países da América do Sul. Especialistas consideram que a atuação mais forte desta organização tem sido em questões relacionadas à defesa.

Mercado Comum do Sul (Mercosul)

Criado em 1991, tem como integrantes quatro países da América do Sul, com a possibilidade de entrada da Venezuela. Pretende a livre circulação de bens e serviços nas fronteiras dos países participantes, a adoção de uma política comercial comum e a coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais.

Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac)

33 países latino-americanos fazem parte da Celac, criada no último dia 3 de dezembro tem como objetivo a integração dos participantes. A ambição de Hugo Chávez é que essa nova organização, que exclui Estados Unidos e Canadá, substitua a Organização dos Estados Americanos (OEA). Para os especialistas, a Celac não chegará a substituir o Mercosul porque tem um caráter mais político do que econômico.

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Entrevista

O pesquisador do Programa de Estudos de América Latina e Caribe da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Proealc/UERJ), Lier Pires Ferreira, considera que o Mercosul não está funcionando e aponta as principais razões. Ele conversou com a reportagem da Gazeta do Povo por telefone. Ferreira também é doutor em Direito Internacional pela UERJ.

Confira a entrevista completa

O Mercado Comum do Sul (Mercosul) já está com 20 anos e ainda busca o compasso certo. O tratado de Assunção – firmado em 1991 entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai – tem entre os principais objetivos a livre circulação de bens e serviços nas fronteiras dos países signatários. Nos dias 19 e 20 de dezembro, a Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo do Mercosul vai se reunir em Montevidéu, Uruguai, e a previsão é que discutam os impactos da crise econômica internacional e negociações com a União Euro­­peia. Mas o bloco também precisa lidar com os próprios conflitos entre os membros.

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Frequentemente, medidas adotadas pelos governos dos países mostram que a circulação não é assim tão livre. Neste ano, por exemplo, a Argentina colocou barreiras comerciais que afetavam exportadores de alimentos brasileiros. Como represália, o Minis­­tério do Desenvolvimento, Indús­­tria e Comércio Exterior (Mdic) do Brasil colocou restrições à importação de veículos, o que afetou especialmente a Argentina.

"O Mercosul tinha ambição de ser união aduaneira, os países membros deveriam ter uma política externa comum; hoje o que se vê é um número enorme de exceções. É uma união muitíssimo imperfeita, não tem avançado, tem ficado estagnado ou regrediu", analisa Sérgio Fausto, cientista político do Grupo de Conjuntura Internacio­­nal da Universidade de São Paulo (Gacinte/USP) e diretor executivo do Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC).

O professor Luciano Nakabashi, do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), tem uma avalição semelhante: "Na prática, está aquém do que se pensava, que a região seria livre, sem barreiras. Medidas protecionistas são aplicadas como se não existisse o Mercosul".

Nildo Ouriques, professor do curso de Economia da Universi­­dade Federal de Santa Catarina (UFSC), destaca que o Mercosul não evoluiu dentro do esperado "porque foi tímido, não porque é inviável". Para ele, os governos neoliberais atravancaram o desenvolvimento pleno do bloco.

Apesar dos impasses nas negociações econômicas, mudanças no sistema educacional do Brasil são apontadas pelo professor de Direito Internacional do Centro Universitário Curitiba (Uni­­curitiba) Luís Alexandre Winter como avanços para a integração no Mercosul. O pesquisador diz que a alteração no ensino fundamental de oito para nove anos faz com que o ensino brasileiro fique mais semelhante a outros países do bloco. Currículos mínimos com a mesma diretrizes em alguns cursos superiores dos países também facilitam o trânsito de profissionais. "O que está sendo feito não tem paralelo na história da América do Sul", diz Winter, que se define como um grande defensor do Mercosul.

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Ingresso da Venezuela

Um dos principais assuntos esperados da reunião de Cúpula dos Chefes de Estado é a análise do ingresso da Venezuela no bloco. Em termos burocráticos a aprovação do novo membro depende apenas da aprovação do congresso paraguaio, mas a questão tem suscitado debates em diversos setores dos países membros.

"Isso vai tornar ainda mais complicado o que já é complicado. Já é difícil entrar em acordo com Argentina, imagine o que significa entrar em acordo com a Vene­­zuela", diz Fausto.

Adepto do bolivarianismo, Ouriques defende o ingresso da Venezuela e acredita que o Merco­­sul precisa se fortalecer e chegar até o México. Para ele, se não houver participação maciça "a ideia de integração é loucura".

Winter argumenta que mesmo que alguns vejam a postura de Chávez como uma ameaça, "a integração é dos países, não dos governantes". O professor aponta como aspecto positivo da entrada do novo membro uma maior integração da Região Norte do Brasil, que hoje ainda tem pouca interação no Mercosul.

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