Para ministro, crise paraguaia não abre porta à Venezuela
Héctor Timerman, o ministro de Relações Exteriores da Argentina, concedeu uma entrevista na noite de ontem dentro do Centro de Prensa Internacional, o complexo montado em Mendoza para os jornalistas que cobrem a reunião da cúpula do Mercosul.
Pressão
Brasiguaios pedem o reconhecimento da autonomia paraguaia
Folhapress
Brasiguaios e parlamentares do Congresso do Paraguai pediram ontem a senadores brasileiros que reconheçam a autonomia do parlamento vizinho no episódio que resultou no impeachment do ex-presidente Fernando Lugo.
Os parlamentares afirmam que o processo ocorreu de forma rápida para evitar que Lugo promovesse manifestações que colocariam em risco a segurança do Paraguai - sem configurar um "golpe" contra o ex-presidente.
"No dia anterior à votação do impeachment, membros do governo advertiam que isso poderia ocorrer. Um governo de quatro anos, comandante do Exército e das Forças Armadas, poderia promover uma luta política", disse Roberto Campos Ortíz, integrante paraguaio do parlamento do Mercosul.
Em audiência com senadores brasileiros, os parlamentares paraguaios criticaram a decisão do Mercosul de suspender o país do bloco e de não permitir sua participação na reunião que ocorre na Argentina.
Entre os "brasiguaios", produtores brasileiros que moram no país vizinho, a avaliação é que a troca no comando do país permitiu pacificar o clima com os paraguaios. "Vivemos agora um momento de paz, tranquilidade, sem confrontos", disse o presidente da cooperativa de trabalhadores brasileiros no Paraguai, Darci Bortoloso.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, adiantou ontem a um grupo de jornalistas brasileiros que o Paraguai continuará impedido de participar dos órgãos do Mercosul até 2013, mas não sofrerá sanções econômicas uma das maiores preocupações dos paraguaios, inclusive do presidente destituído Fernando Lugo.
O país foi suspenso no último domingo, dois dias depois do impeachment de Lugo, e excluído da reunião da cúpula do Mercosul, que termina hoje em Mendoza, na Argentina. A confirmação feita pelo ministro antecipa a decisão a ser anunciada pelos chefes de Estado hoje, na reunião que começa às 11 horas no Hotel Interamericano.
Pela manhã, os chanceleres participaram de uma reunião em que "a questão do Paraguai esteve no centro dos debates". "Estamos elaborando um projeto para a decisão que será tomada pelos chefes de Estado amanhã [hoje]", disse Patriota. "O que posso adiantar é que haverá a suspensão da participação do Paraguai nos órgãos do Mercosul."
O ministro brasileiro disse ainda que os chanceleres "lamentam muito" a situação paraguaia, mas, depois de uma sessão de emergência da Unasul, convocada pela presidente Dilma Rousseff durante a Rio+20, e da visita de 11 diplomatas ao Paraguai, "constatamos que havia dúvida sobre o devido processo [de impeachment de Lugo]".
"A suspensão do Paraguai entristece todos os membros do grupo", disse Héctor Timerman, ministro das Relações Exteriores da Argentina, ecoando as palavras de Patriota em uma conversa com a imprensa ontem à noite (leia mais nesta página).
Rapidez
Outra questão levantada no encontro dos diplomatas, bastante comentada desde a saída de Lugo, tem a ver com a rapidez do processo. "E isso [o pouco tempo para a defesa do presidente paraguaio] levou a uma constatação de que não existe plena vigência democrática", afirmou Patriota.
O ministro citou o Protocolo de Ushuaia, que prega a "plena vigência democrática" como requisito para a integração dos países. É o que Timerman chama de "cláusula democrática", incluída no protocolo depois de um pedido do próprio Lugo na reunião realizada em Montevidéu, em dezembro do ano passado. Os outros países concordaram com ela.
Sobre a participação plena da Venezuela no Mercosul, Patriota foi evasivo, dizendo que o país do presidente Hugo Chávez "sempre é analisado nas reuniões" da cúpula. Fala-se em "participação plena" porque os venezuelanos costumam ter representantes nos encontros da cúpula. Agora, em Mendoza, está o chanceler Nicolás Maduro.
Paraguaios contestam suspensão da Unasul
Ignacio Mendoza, do Paraguai: barrado na reunião da Unasul
A decisão do Conselho de Chefes de Estado da União Sul-Americana de Nações (Unasul) de suspender a participação paraguaia da reunião extraordinária de hoje na cidade argentina de Mendoza provocou protestos das autoridades do Paraguai que exerce a Presidência temporária do grupo.
Em nota, a Unasul explicou que a decisão foi tomada "levando em consideração o Tratado Constitucional e a assinatura do Protocolo Adicional sobre o compromisso com a democracia, que estabelecem que a plena vigência das instituições democráticas e o respeito irrestrito dos direitos humanos são condições essenciais para o desenvolvimento dos processos de integração entre os Estados membros". Mas Assunção qualificou a decisão de ilegal.