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Mercosul vai testar a Venezuela

Chávez durante a entrevista de quatro horas de duração, em que falou sobre sua saúde | Juan Barreto/AFP
Chávez durante a entrevista de quatro horas de duração, em que falou sobre sua saúde (Foto: Juan Barreto/AFP)

O receituário econômico de Hugo Chávez está prestes a ser colocado à prova. Com a entrada oficial da Venezuela no Mercosul marcada para o dia 31 deste mês, especialistas questionam como será possível conciliar as regras de um bloco de livre comércio com o cenário de câmbio fixo, preços controlados e participação escassa de empresas privadas na economia do país.

"A política econômica de Chávez está fundamentada em três elementos aparentemente contrários aos princípios do Mercosul: uma economia ancorada em compras­­ governamentais, controle de preços e sem muito espaço para empresas privadas", diz­­ o analista venezuelano Car­­los Romero.

No Tratado de Assunção, documento que marcou a criação do Mercosul, os sócios se comprometeram com "a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países por meio da eliminação dos direitos aduaneiros e das restrições relativas à circulação de mercadorias e de qualquer outra medida equivalente".

"O Mercosul já estava em uma situação complicada antes, com a Venezuela deve ficar ainda mais difícil. Todo esse protecionismo de Chávez só tornou o país mais dependente do petróleo. No médio e no longo prazo representa uma política de atraso para o país", disse Nora Zygel, professora da FGV Management.

As vendas da indústria petrolífera para outros países representam 95% da receita de exportações venezuelanas. Nas transações comerciais com o Brasil, por exemplo, o nafta (derivado de petróleo) para a petroquímica representou, de janeiro a junho deste ano, mais da metade das vendas. Mas o principal entrave para as negociações não é a concentração da pauta de exportações, mas os desafios impostos pelo câmbio fixo, que limita a entrada de divisas e restringe as importações.

Somente neste ano, o bolívar já sofreu a maior desvalorização desde 2010, quando Chávez resolveu extinguir o mercado paralelo de dólares para combater a inflação em alta e o uso potencial para lavagem de dinheiro.

A cotação para compras essenciais foi fixada em 4,3 bolívares. Mas o fato de o mer­­­­cado paralelo ter sido ex­­tinto pelo presidente não quer­­ dizer que os ve­­nezuela­­nos tenham parado de adqui­­rir dólares. E estão comprando cada vez mais, o que eleva a cotação e pressiona a infla­­ção.

Segundo o blog Lechuga Verde, que apresenta a cotação negociada por doleiros, o dólar custava hoje 9,28 bolívares. Já o euro era negociado por 11,41 bolívares. As informações aparecem também nas redes sociais.

De outro lado, a inflação­­ não para de aumentar.­­ O­­ Fun­­do Monetário In­­ter­­na­­cio­­nal (FMI) prevê que a Ve­­nezuela encerrará o ano com uma taxa de até 31,6%. No ano passado, o país registrou uma variação de quase 28%.

Na prática, com câmbio fixo, os importados saem cada vez mais em conta, o que prejudica a indústria local. Segundo Romero, as atividades que podem sofrer mais com as mudanças incluem a área de alimentos processados, indústria química e materiais de construção, afetados pelos preços artificiais e pela taxa de câmbio imposta pelo governo.

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