A chanceler alemã, Angela Merkel, desembarcou na quarta-feira (19) no Brasil acompanhada de 12 ministros para uma visita oficial que tem na agenda temas como a reforma do Conselho de Segurança da ONU e parcerias em áreas de meio ambiente e mudanças climáticas.
A líder europeia foi recebida em um jantar pela presidente Dilma Rousseff, com quem voltará a se encontrar nesta quinta-feira.
Além de debater uma reforma do CS, defendida por Brasil e Alemanha desde 2004, o governo brasileiro espera que o diálogo estratégico sirva para convencer os alemães a ampliar os investimentos em infraestrutura, especialmente no Programa de Investimento em Logística.
Merkel defende a visita como parte de uma relação de longo prazo que deve ter como foco desenvolvimento tecnológico e parcerias na área de meio ambiente -- especialmente em mudanças climáticas.
Protestos e interesses
A viagem da chanceler foi questionada pela imprensa alemã após os protestos de domingo contra Dilma. O porta-voz do governo de Berlim, Steffen Seibert, respondeu que as “questões internas” do governo brasileiro não definem a agenda de visitas de Merkel.
O encontro entre as chefes de governo -- que não é uma visita de Estado, mas uma reunião bilateral de alto nível, no jargão diplomático -- é a primeira de uma sequência de reuniões que devem ocorrer a cada dois anos entre os dois governos para tratar de temas de interesse mútuo e foi acertado durante a visita de Merkel ao Brasil no ano passado, na Copa do Mundo.
A Alemanha só mantém esse tipo de diálogo com alguns países europeus -- França, Espanha, Itália, Polônia e Holanda --, além de EUA, China, Israel, Índia e Rússia. O Brasil foi incluído na lista no ano passado.
O foco alemão no Brasil, além da cooperação na área ambiental -- o país deve fazer um investimento de R$ 52 milhões em programas nessa área -- e de energia, é tentar ampliar a presença de empresas no mercado brasileiro e garantir espaço em uma concorrência com a China.
Em entrevista ao canal alemão “Deutsche Welle”, Reinhold Festge, presidente da Associação dos Fabricantes de Máquinas e Instalações Industriais, destacou a necessidade de os produtos alemães “marcarem presença” no Brasil.
Do lado brasileiro, a presidente pretende apresentar seu plano de concessões a Merkel e tentar atrair investimentos, especialmente na área de portos. O Plano de Logística, que prevê a necessidade de R$ 198,4 bilhões para infraestrutura, vem sendo vendido pela presidente em viagens ao exterior e aos líderes que visitam o Brasil -- o governo vê como essencial a entrada de recursos estrangeiros.
Desta vez, a chanceler alemã não traz consigo empresários, apesar do interesse alemão no mercado brasileiro. Em setembro, um encontro apenas de negócios deve ocorrer em Santa Catarina. Ainda assim, a economia deverá ser um dos pontos centrais da conversa entre as duas líderes.
Na tarde de quarta-feira, Dilma reuniu no Palácio do Planalto representantes de 20 empresas que têm investimentos na Alemanha. A intenção é abrir um canal direto com Merkel para facilitar a relação. Não há, no entanto, a previsão de que sejam assinados acordos significativos.
Além do investimento em projetos de meio ambiente, entram na lista protocolos de intenções para explorar terras raras, matérias-primas estratégicas para produtos de alta tecnologia que o Brasil possui, mas não explora adequadamente. Há também acordos para pesquisas marinhas e de mobilidade urbana.