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A ex-chanceler da Alemanha, Angela Merkel, alvo de críticas desde o início da guerra na Ucrânia por sua política em relação à Rússia, disse nesta terça-feira (7) que não se arrepende de nada, embora muitas vezes se pergunte se "a tragédia poderia ter sido evitada".
Em sua primeira aparição pública desde que deixou o cargo, há seis meses, a ex-chanceler explicou que, por exemplo, em 2021 não conseguiu realizar uma iniciativa europeia para trazer o presidente russo, Vladimir Putin, de volta à mesa de diálogo.
No entanto, olhando para trás, disse sentir "tranquilidade" por saber que fez o possível para evitar a situação atual e que tem total confiança na gestão de seu sucessor, Olaf Scholz, segundo destacou em uma palestra em Berlim organizada pela editora Aufbau.
Em relação às acusações de que foi ingênua ao acreditar que a Rússia poderia mudar por meio das relações comerciais com o Ocidente, Merkel declarou que nunca teve "ilusões", mas que não poderia agir como se um país vizinho "não existisse".
A ex-chanceler salientou que já sabia então que Putin "queria destruir a Europa", mas que antes de entrar em conflito aberto era preciso "tentar tudo diplomaticamente".
Nesse sentido, resumiu sua política em relação ao Kremlin como "encontrar um modus vivendi onde não estejamos em guerra, mas tentemos coexistir apesar de nossas diferenças".
Em outro momento da palestra, Merkel comentou que ficou incomodada com as sanções dos Estados Unidos à construção do gasoduto Nord Stream 2, uma vez que é algo que "se faz com um país como o Irã, mas não com um aliado", razão pela qual afirmou se sentir muito grata à iniciativa do presidente Joe Biden de enterrar a questão em 2021.
A ex-chanceler também defendeu a decisão da Cúpula de Bucareste de 2008 de não conceder à Ucrânia o status de país candidato à adesão à Otan, já que então não era um país "democraticamente firme" e era "dominado por oligarcas".
Merkel alegou que, do ponto de vista de Putin, também teria sido uma "declaração de guerra" à qual ele teria reagido causando grandes danos a Kiev, em linha com sua política de intervir em países do entorno da Rússia que tentavam se aproximar do Ocidente.
Por isso, segundo frisou, era contra a admissão da Ucrânia na Otan porque "não queria continuar a provocar" essa dinâmica e era necessário "evitar a escalada".
Na palestra, Merkel falou ainda sobre seus encontros pessoais com Putin e lembrou como, em sua reunião de 2007 em Sochi, o presidente russo lhe disse que para ele a queda da União Soviética foi o pior evento do século 21, ao que ela, nascida na Alemanha Oriental, respondeu ter sido uma "sorte" que lhe deu "liberdade".
"Era claro que havia um grande dissenso, que foi se agravando. Em todos esses anos não foi possível acabar com a Guerra Fria", declarou.
Em relação à invasão da Ucrânia, Merkel opinou que o Kremlin cometeu um "erro catastrófico", por se tratar de "um ataque brutal, que desrespeita o direito internacional e não tem desculpa".
No entanto, pediu para que não se condene sumariamente a cultura russa, mas que se julgue cada obra ou artista separadamente, já que nem todos se alinham com Putin.
Já ao ser questionada sobre sua vida pessoal após 16 anos no poder, Merkel afirmou que ficar mais tempo na chancelaria teria sido um "anacronismo" e que é um "sentimento lindo" tê-la deixado por vontade própria.
Nos últimos seis meses, contou ter dedicado tempo a fazer exercícios e ler "livros gordos", algo que não tinha tido tempo de fazer, e disse acreditar que será "muito feliz" na sua nova fase da vida.
No entanto, comentou que esperava que sua aposentadoria fosse "diferente" e não marcada pela "fissura" da guerra.
"Ainda sou uma pessoa política e, como muitos outros, muitas vezes fico entristecida nos dias de hoje", completou.