A chanceler alemã Angela Merkel, que não conseguiu alcançar a maioria absoluta nas eleições passadas, abre na sexta-feira com os social-democratas sua rodada de contatos preliminares na busca de um parceiro para estabelecer um Governo de coalizão estável.
A chefe do Governo alemão e líder da União Democrata-Cristã (CDU) afirmou nesta quinta-feira (3), no marco dos atos para festejar o Dia da Unidade da Alemanha, que as conversas exploratórias denominadas conversas de pesquisa serão justas e apelou para o sentido de Estado dos partidos envolvidos.
"Temos a responsabilidade comum de formar um Governo estável", afirmou Merkel, para depois agradecer a confiança outorgada pelos eleitores em 22 de setembro.
"Agora, em troca, vou tentar corresponder a essa confiança com conversas justas".
O Partido Social-Democrata Alemão (SPD) é o primeiro convidado à mesa de negociação da União de Merkel - amanhã na sede parlamentar - e Os Verdes, outro candidato viável para um coalizão, terá um encontro similar com a chefe do Governo na próxima quinta-feira.
Estas primeiras reuniões com ambos os partidos, nas quais serão tratados programas e expectativas de cargos, poderiam ter uma segunda parte e, depois, se os dois participantes de cada encontro ficarem satisfeitos, pode ser aberta a fase normal de negociações.
"Estamos preparados para as primeiras conversas de pesquisa, que levamos muito a sério. Serão realizadas conversas de coalizão (ou não) e isso para a gente é uma questão aberta", disse a secretária-geral do SPD, Andrea Nahles, em declarações ao jornal "Rheinische Post".
A convenção de 200 delegados do SPD deve aprovar o início das negociações formais, da mesma forma como um órgão amigo dos Verdes deve apoiar explicitamente um passo similar.
Em ambos os partidos de centro-esquerda, o cetiscimo perante uma coalizão com os conservadores é grande e mostrou as fissuras entre suas asas liberais e as facções mais esquerdistas.
Além disso, os sociais-democratas ventilaram a possibilidade de realizar uma votação entre seus 470 mil filiados sobre um possível acordo de Governo em coalizão, o que introduz um novo fator de risco neste processo.
Os períodos de negociação de um acordo de coalizão na Alemanha oscilaram nas últimas seis eleições entre os 30 dias de 1994 e 1998 -que acabaram em Governos de social-democratas e verdes- e os 65 dias de 2005, que deram pé à "grande coalizão" entre a União e o SPD da primeira legislatura de Merkel.
Os impostos terão amanhã um espaço preeminente no encontro entre o partido de Merkel e o SPD, já que uma alta tributária seletiva era uma das principais propostas da campanha social-democrata e é agora uma exigência para entrar no Governo.
A CDU, por sua parte, quer aumentar a pressão fiscal, como revelou durante a campanha e falou o ministro das Finanças, o democrata-cristão Wolfgang Schäuble, em entrevista ao jornal popular "Bild", que será divulgada amanhã.
As eleições de 22 de setembro deram ao bloco conservador de Merkel 41,5% dos votos, longe dos 25,7% alcançados pelo SPD, 8,6% da Esquerda e 8,4% dos Verdes.
O Partido Liberal Alemão (FDP), atual parceiro minoritário de Merkel e tradicional partido dobradiço do Bundestag -presente em 17 dos 22 Governos desde a Segunda Guerra Mundial-, ficou fora do Parlamento e impediu a reedição do pacto que possibilitou a atual legislatura.
A Esquerda, formada por pós-comunistas e uma cisão dissidente social-democrata, não é uma opção realista, dadas as insolúveis distâncias programáticas com a União Democrata-Cristã de Merkel.
Por fim, os especialistas consideram altamente improvável que seja formado um tripartite de esquerda com o SPD, Os Verdes e A Esquerda -uma opção que os dois primeiros descartaram-, embora o acordo faça com que alcancem as cadeiras para a maioria absoluta.