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Jornais da Coreia do Sul traziam o encontro entre Trump e Kim nas manchetes desta terça-feira (12) | JUNG YEON-JEAFP
Jornais da Coreia do Sul traziam o encontro entre Trump e Kim nas manchetes desta terça-feira (12)| Foto: JUNG YEON-JEAFP

Como observou o intérprete do líder norte-coreano Kim Jong-un, aparentemente citando seu chefe, esta terça-feira (12) foi um dia que parece ter saído direto de um filme de fantasia ou ficção científica. 

Em cenas surreais em um hotel da era colonial na ilha tropical de Sentosa, em Cingapura, Kim se encontrou por várias horas com o presidente dos EUA, Donald Trump. Apenas há alguns meses eles estavam ameaçando destruir um ao outro. 

Houve vários apertos de mão, dois rápidos passeios ao ar livre, um breve almoço, sorrisos periódicos e alguns tapinhas nas costas. Trump elogiou Kim repetidamente, chamando-o de "grande personalidade” e “muito inteligente". Kim ficou mais calado, mas agradeceu Trump pela reunião. 

Ao fim o encontro eles assinaram um documento com poucos detalhes do que virá a seguir. A Coreia do Norte prometeu "avançar em direção à desnuclearização" - algo que já foi dito antes - e Trump prometeu garantias de segurança não especificadas. Nenhum prazo foi citado, além de um compromisso de que altos funcionários dos dois países continuarão conversando. 

Trump disse mais tarde, durante a coletiva de imprensa que durou cerca de uma hora, que os EUA suspenderiam “os jogos de guerra” na Coreia do Sul,  em referência aos exercícios militares conjuntos entre as duas nações. O presidente norte-americano disse também que ele e Kim concordaram em “algumas coisas que não estavam no documento”. 

O fato de o encontro ter acontecido é significativo. Trump quebrou um impasse. 

O presidente dos EUA descreveu a cúpula como ponto de partida e as concessões norte-americanas como inócuas. "Eu não desisti de nada", disse na coletiva de imprensa, e depois leu uma lista do que acredita serem concessões norte-coreanas - a suspensão de testes nucleares e de mísseis, a libertação de três reféns americanos e a promessa de devolver restos mortais de soldados dos EUA que faleceram em combate na Guerra da Coreia. 

Alguns observadores da Coreia afirmam que é melhor para os EUA e a Coreia do Norte estarem falando do que ameaçando um ao outro, mesmo sem uma série de compromissos específicos de Kim. 

"Eu classificaria a cúpula como nota 10 porque conseguiu um primeiro encontro diplomático entre dois adversários de longa data", disse Patrick Cronin, diretor do programa de segurança do Center for a New American Security's Asia-Pacific. "Eles assinaram um amplo entendimento político, deixando os detalhes para negociações de especialistas."

O ex-chanceler sul-coreano, Yoon Young Kwan, disse que a abordagem de Trump parece "muito diferente" das negociações anteriores entre os dois países. "Até agora, as administrações norte-americanas tendem a se concentrar em um acordo de segurança militar estritamente definido em vez de tentar resolver a causa do problema da Coreia do Norte, que é um alto nível de desconfiança mútua", disse ele para a Bloomberg Television. "A Coreia do Norte é um país pequeno e fraco cercado por grandes potências, e isso deixou os norte-coreanos paranoicos com sua própria segurança nacional".

"Precisávamos aliviar esse tipo de paranoia da Coreia do Norte quanto à sua própria segurança nacional", disse ele.

Críticas

Mas uma Coreia do Norte desarmada ainda está longe de virar realidade.

Até agora Trump não mostrou que vai evitar a mesma armadilha, conforme suas próprias palavras, em que caíram seus antecessores: dar muito à Coreia do Norte sem receber nada em troca. O presidente repetidamente descreveu a declaração que ele e Kim assinaram como "abrangente", mas com 426 palavras o documento é tudo menos isso.

A diretora executiva da Campanha Internacional pela Abolição de Armas Nucleares, Beatrice Fihn, criticou o documento como "insubstancial" e disse que Trump e Kim deveriam ter assinado o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares.

Michael McFaul, que serviu como embaixador do presidente Barack Obama na Rússia, disse no Twitter depois que o documento foi divulgado que os EUA "desistiram de muito por nada" com a cúpula e conseguiram "muito, muito menos que um acordo de promessas".

O próprio Trump admitiu que a abertura para o diálogo com Pyongyang pode não levar a um acordo de paz no futuro. "Acho que ele vai fazer essas coisas [as promessas para a desnuclearização]", disse o presidente. "Eu posso estar errado. Eu posso estar na sua frente em seis meses e dizer: 'Eu estava errado'". 

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