Sob pressão por causa de suas ambições nucleares, o Irã pode nunca vir a agir sobre sua ameaça de fechar o Estreito de Ormuz, mas tem cartas suficientes na manga para manter agitados seus inimigos, os fornecedores de petróleo e o mercado mundial. Enquanto Estados ocidentais reforçam as sanções e seus inimigos lançam uma suposta guerra secreta contra seu programa de enriquecimento de urânio, Teerã advertiu diversas vezes que pode fechar o estreito, estrangulando o fornecimento do petróleo e gás do Golfo.
Mas poucos peritos militares, de segurança ou de inteligência contatados pela Reuters, seja dentro ou fora do governo, acreditam que isso realmente seja provável.
Em vez disso, dizem, os líderes iranianos buscarão maneiras de atormentar os inimigos e provocar rupturas, detendo-se antes de provocar uma retaliação maciça dos Estados Unidos. Os possíveis truques do Irã podem incluir a destruição de petroleiros no Golfo com barcos de ataque rápidos, invadir ilhas do Golfo desabitadas reivindicadas por outros Estados, fazer reféns navios militares ou civis que passarem pela região, provocar agitações em países árabes governados por muçulmanos sunitas com comunidades xiitas e orquestrar ataques contra forças norte-americanas no Afeganistão ou em outros lugares usando grupos "por procuração", como o Hezbollah. O risco inerente a tudo isso, porém, é que alguém em qualquer um dos lados erre o cálculo e provoque um conflito total. "Esses cenários fazem sentido como ações prováveis que não chegam a fechar ativamente o Estreito - mas com certeza aumentarão a tensão", disse Nikolas Gvosdev, professor de estudos de segurança nacional no Naval War College em Rhode Island, nos Estados Unidos. "O objetivo do Irã ao aumentar as tensões no Golfo é fazer com que outros países pressionem os EUA para que mostrem contenção e como um modo de criar espaço de manobra para Teerã".
A Guarda Revolucionária do Irã planeja mais exercícios militares para fevereiro, enviando enxames de canhoneiras em águas internacionais e exibindo seu arsenal de mísseis contra navios. Só isso já poderia fechar algumas áreas do Golfo ao transporte marítimo dos vizinhos e de empresas.
A captura, em 2007, de 15 marinheiros britânicos pelo Irã foi muito constrangedora para Londres. Teerã pode estar tentando um sucesso similar em humilhar as potências ocidentais, sem infligir danos físicos. Atualmente, oficiais da marinha norte-americana e aliada dizem que suas embarcações são frequentemente seguidas por barcos iranianos, e há quem tema que se a questão sofrer uma escalada, esses confrontos possam se intensificar.
Para além das águas do Golfo Pérsico, muitos analistas esperam que o Irã aumente ainda mais seu apoio para grupos regionais simpatizantes, de militantes que atacam as forças norte-americanas no Afeganistão a manifestantes e militantes xiitas no Bahrein e na Arábia Saudita. Isso pode aumentar o sentimento de confronto que surge do desafio a várias resoluções da ONU exigindo que o país suspenda seu programa de energia atômica - visto pelo Ocidente como uma tentativa camuflada para obter armas nucleares - e retome as negociações com as potências mundiais.