Simpatizantes de López Obrador, o segundo colocado na eleição, protestam contra fraude| Foto: Reuters

Diplomacia

Por telefone, Dilma parabeniza primeiro colocado na votação

A presidente Dilma Rousseff telefonou na manhã de ontem ao primeiro colocado na eleição presidencial do México, Enrique Penã Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), para parabenizá-lo pela vitória nas urnas no último domingo.

"Foi uma vitória para a América Latina", afirmou Dilma ao novo presidente, de acordo com informações da Secretaria de Imprensa da Presidência da República.

No telefonema, de cerca de dez minutos, Dilma disse que o Brasil está "muito feliz" com o resultado das eleições e aproveitou para convidar Peña Nieto para visitar o Brasil ainda antes de ser empossado presidente. A posse está prevista para 1º de dezembro.

Na conversa, Dilma também falou sobre as negociações entre os dois países e disse que está pronta para dar "um impulso" às relações bilaterais estratégicas com o México.

CARREGANDO :)

As denúncias de irregularidades na votação que elegeu Enrique Peña Nieto, do­­ Partido Revolucionário Ins­­titucional (PRI), o novo presidente do México transformaram-se ontem em imbróglio político.

De um lado, a máxima­­ autoridade eleitoral do país,­­ o Instituto Federal Elei­­to­­ral­­ (IFE), acatou as de­­núncias­­ do segundo colocado, Andrés Manuel López Obra­­dor, Parti­­do da Revolução De­­mocrática (PRD), derrotado com­­ diferença de 6,51 pontos porcentuais, e anunciou a recontagem de um terço dos votos a partir de hoje — nada menos que entre 45 mil e 55 mil urnas das cerca de 143 mil instaladas em todo o país.

Publicidade

Mas, do outro lado, Peña Nieto, já chamado pela imprensa local de "o virtual presidente eleito do México", se esforçava para ignorar a contestação. Ele recebeu cumprimentos de vários líderes mundiais — entre eles, a presidente Dilma Rousseff — pela vitória. E antes mesmo de anunciar os nomes do Gabinete, decidiu focar o discurso nas reformas que pretende, em breve, apresentar ao Congresso.

As atenções, porém, estavam focadas na polêmica — sobretudo em um país que viu nas eleições de 2006 um desfecho dramático, no qual o mesmo López Obrador fora derrotado por 0,56 ponto porcentual pelo atual presidente, Felipe Calderón.

O presidente do IFE, Al­­fre­­do Figueroa, explicou que em 43 mil urnas, espalhadas em 37 distritos, a recontagem dos votos será total. A apuração dos votos presidenciais se dará em 19 distritos.

A recontagem parcial anun­­ciada pelo IFE não pareceu satisfazer a López Obra­­dor. Determinado, ele defendeu uma recontagem total em todos os 300 distritos eleitorais do México. "Vamos pedir que limpem essas eleições e as tornem transparentes. Pelo bem da democracia e pelo bem­­ do país, deve-se recontar todos os votos para que não haja dúvidas", pediu o representante da esquerda, que diz ter provas concretas de compra de votos pelo adversário.

Entrevista"Na parte econômica, o PRI pode ser melhor parceiro para o Brasil"

Publicidade

Marcos Raposo Lopes, embaixador do Brasil no México.

Para o embaixador do Brasil no México, Marcos Raposo Lopes, a vitória do PRI, se confirmada, pode ser vantajosa para as relações bilaterais, principalmente na área econômica. Nesta entrevista à Agência O Globo, ele diz que o fim da exigência de visto para brasileiros pode ser uma das primeiras medidas do novo governo.

Qual é a expectativa em relação ao futuro das relações Brasil-México?

O PRI é tradicionalmente latino-americanista. Gostei do que ouvi sobre as propostas em relação ao Brasil. Eles esperam levar adiante o Acordo Estratégico de Integração Econômica e rever a posição em relação à exigência de visto para brasileiros. Seria uma das primeiras ações na relação bilateral. O México passaria também a ter interesse numa vaga permanente no Conselho de Segurança. Passaríamos talvez até a concorrer por vagas, mas pensaríamos igual sobre a reforma do Conselho. Mas há mais pontos em comum para estarmos juntos, não precisamos ser rivais.

Houve uma impressão de fraude no acompanhamento das apurações?

Publicidade

Se há algum tempo ainda havia a sombra da fraude na apuração, no domingo conversei com mexicanos que estavam confiantes de que seu voto seria contabilizado. Também acompanhei as apurações no Instituto Federal Eleitoral (IFE) com outros embaixadores estrangeiros e integrantes de missões internacionais visitantes, e todos pareciam bastante satisfeitos com o resultado do processo.

Uma vitória do PRD não seria mais benéfica para o Brasil?

Talvez tivesse mais afinidade política, mas menos econômica. Na parte econômica, o PRI pode ser melhor parceiro. Mas não nos cabe escolher, e sim trabalhar da melhor maneira possível com quem foi escolhido pelos mexicanos.