San José - Horas depois de desembarcar na Costa Rica, o presidente hondurenho designado pelo Congresso, Roberto Micheletti, retornou ontem para Tegucigalpa indicando que não haverá encontros frente a frente com o presidente deposto, Manuel Zelaya. Os dois rivais se reuniram separadamente com o presidente da Costa Rica, Óscar Arias. Micheletti disse que voltava para casa "totalmente satisfeito" com o resultado da viagem.
O primeiro a chegar à casa de Arias, onde foram realizados os encontros, foi Zelaya, com o seu tradicional chapéu de vaqueiro. O líder hondurenho permaneceu algumas horas na residência antes de emitir um comunicado à imprensa. Evitando o tom agressivo do dia anterior, quando qualificou Micheletti de "assassino", o presidente deposto falou apenas que "o Estado de direito deve ser restituído em Honduras".
Poucos minutos depois de Zelaya ir embora, chegou Micheletti. Agradecendo ao costa-riquenho pela mediação, afirmou que "os acontecimentos uniram ainda mais os hondurenhos". Para o presidente interino, "ninguém está acima da lei" e a negociação deve ter como base a Constituição hondurenha.
O retorno de Micheletti para Honduras é um sinal de que as "negociações não foram bem", afirmou o analista Kevin Casas, da Brookings Institution, em entrevista à CNN em espanhol.
"Ele (Micheletti) é muito difícil de negociar, não cederá facilmente", disse ao Estado Eduardo Maldonado, jornalista e secretário de Assuntos Internacionais do Partido Liberal agremiação tanto de Zelaya quanto de Micheletti.
Prêmio Nobel da Paz, o presidente costa-riquenho, segundo disseram autoridades do país, utilizaria o dia de ontem para ouvir os dois lados. Mais tarde, Arias se reuniria com comissões negociadoras que representavam os dois lados.
O diálogo deveria prosseguir hoje na casa de Arias, mas a volta de Micheletti deve alterar os planos. A expectativa era de que ambos os lados cedessem um pouco. A comunidade internacional não reconhece o governo interino de Honduras.
Solução
Várias alternativas vêm sendo discutidas por analistas. Em uma delas, Zelaya retornaria, mas teria de renunciar a seus planos de alterar a Constituição. Em outra, Micheletti permaneceria no poder, mas o presidente deposto poderia retornar a Honduras anistiado. Em uma terceira hipótese, uma outra figura assumiria interinamente a presidência.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) e os EUA não admitem outra saída a não ser o retorno de Zelaya.
De acordo com pesquisa do Instituto Gallup, realizada em Honduras, 41% dos entrevistados consideram a deposição de Zelaya justificável. Outros 28% disseram se opor.
Zelaya foi deposto dia 28 por militares e colocado num avião para a Costa Rica. O governo interino o acusa de desrespeitar a Constituição com o objetivo de permanecer no poder.