Tegucigalpa - Depois de os representantes do governo golpista de Honduras e do presidente deposto Manuel Zelaya na mesa de negociações chegarem ontem a um texto consensual para resolver a crise política do país, o presidente interino, Roberto Micheletti, voltou a afirmar que "até agora, não há acordo.
As afirmações de Micheletti se deveram a um desentendimento sobre qual instância de poder iria ratificar o texto final. O governo interino quer que seja a Corte Suprema de Justiça, enquanto Zelaya defenderia que fosse o Congresso.
"Estão pedindo que seja o Congresso a decidir se vai (Zelaya) regressar ou não. Mas esse é um assunto legal, cabe à Corte de Justiça, disse o presidente interino. "Amanhã (hoje), os negociadores voltam a conversar, acrescentou.
Embora tanto o Congresso quanto a Justiça tenham apoiado o golpe contra Zelaya, por considerarem ilegal a insistência do presidente deposto em promover consulta popular sobre a realização de uma Assembleia Constituinte, o Legislativo se mostrou menos favorável a Micheletti desde que Zelaya voltou ao país e se refugiou na Embaixada do Brasil, há 25 dias. O Congresso determinou, inclusive, que o presidente interino recuasse de um decreto que suspendeu liberdades civis no país e permitiu o fechamento de meios de comunicação pró-Zelaya.
Já com a restituição de Zelaya nas mãos da Corte Suprema, seu retorno ao cargo poderia ser atrasado indefinidamente, de acordo com o ritmo de votação dos magistrados. Ou, ainda, a corte poderia rejeitar sua volta.
Na embaixada
"Há um texto ainda em discussão, é o máximo que lhe posso dizer neste momento, disse Zelaya, após reunião com seus delegados, na Embaixada brasileira. Segundo ele, a expectativa era de que o texto definitivo para o acordo pudesse sair ainda na noite de ontem (Honduras está três horas a menos do que Brasília), com a retomada das negociações, ou na madrugada de hoje.
Na semana passada, quando uma comitiva da Organização dos Estados Americanos (OEA) esteve em Tegucigalpa para promover o diálogo entre os dois lados do conflito, Zelaya havia estabelecido o dia 15 de outubro como o prazo final para que se chegasse a um acordo para a sua volta ao poder. Caso contrário, ele prometeu não aceitar a realização das eleições marcadas para 29 de novembro, na qual será eleito o seu sucessor.
O principal representante de Zelaya nas negociações, o ex-ministro do Interior Victor Meza, disse após a reunião de ontem que o presidente deposto "aprovou o texto com algumas modificações, mas também se recusou a dar detalhes.