"Isto aqui vai para um filme com uma performance de partir o coração. E, quando falo em partir o coração, vocês sabem que estou falando em Mickey Rourke. Foi dessa forma emocionada, segurando o Leão de Ouro com as duas mãos, que Wim Wenders anunciou o prêmio máximo do Festival de Veneza, encerrado sábado, para o filme The Wrestler, de Darren Aronofsky. Com um largo sorriso, de gravata vermelha com bolinhas brancas, Mickey Rourke 52 anos, boxeador profissional, 17 nocautes, raiva assustadora e paciência altamente limitada largou por um instante seu chihuahua e contrariou a etiqueta: subiu ao palco para receber o prêmio dado para Aronofsky (que veio correndo atrás de Rourke).
Considerado a grande estrela do festival, Rourke, que viveu na tela o papel de um lutador em fim de carreira (recusado inicialmente por Nicolas Cage), volta ao cinema e tenta abandonar a imagem de bad boy que sempre o acompanhou. No entanto, o protagonista de filmes como Nove e Meia Semanas de Amor e Coração Satânico se irrita facilmente com os jornalistas, até mesmo com quem apenas quer elogiá-lo, como foi o caso de um repórter italiano: "Senhor Rourke, o senhor acha que The Wrestler segue a mesma linhagem de Touro Indomável (cult de Martin Scorsese, que mostra a ascensão e queda de um boxeador vivido por Robert de Niro)?" "Você é muito ignorante, soltou, finalmente. "Este filme (The Wrestler) não tem nada a ver com o boxe. É um filme sobre luta-livre! Por que você acha que esse filme tem a ver com boxe, cara? É como confundir pingue-pongue e futebol!, disse, sem economizar os palavrões. Aronofsky, enquanto segurava seu Leão de Ouro com a mão direita, tentava conter a fera com a esquerda.