Mais de 34 milhões de eleitores de origem latino-americana têm a chance de votar nesta terça-feira (8) nas chamadas midterms - as eleições legislativas de meio de mandato presidencial nos Estados Unidos. Apesar de representar uma parcela minoritária da população do país, ela poderá decidir muitas disputas e a própria maioria no Congresso, e o Partido Republicano parece ganhar cada vez mais terreno entre seus representantes.
Por outro lado, os latinos são uma minoria heterogênea cuja diversidade nem sempre é levada em conta por republicanos e democratas, que por isso desconhecem muitos de seus interesses ou estão atrasados na resposta às suas demandas.
“Os candidatos ainda não perceberam o potencial dos eleitores latinos”, disse à Agência EFE Yadira Sánchez, diretora da ONG Poder Latinx.
Os latinos são o grupo eleitoral que mais cresceu nos EUA desde as últimas eleições de meio de mandato, em 2018: cerca de 34,5 milhões de pessoas dessa comunidade podem votar nessas eleições, de acordo com dados do Centro de Pesquisa Pew. Em algumas das principais disputas pelo controle do Congresso, eles ostentam uma porcentagem muito alta de eleitores.
É o caso, por exemplo, de Arizona, Nevada e Colorado, estados em que senadores democratas travam batalhas ferozes para manter suas cadeiras contra candidatos republicanos e onde os latino-americanos representam 30%, 24% e 22% do eleitorado, respectivamente.
Mas não há um único voto latino: ele varia de acordo com o país de origem do eleitor ou sua família, seu contexto geopolítico e até mesmo sua religião.
“Não há voto latino, mas temos que falar sobre eleitores latinos”, explicou à EFE Rodrigo Domínguez-Villegas, diretor do Centro de Políticas Latinas da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
Ele lembrou que, no mesmo estado, os latinos votam de forma muito diferente, e na Flórida, por exemplo, os americanos de origem cubana tendem a apoiar o Partido Republicano, enquanto os porto-riquenhos votam majoritariamente nos democratas.
Além disso, as pessoas de origem mexicana e centro-americana na Califórnia votam de forma diferente dependendo de onde vivem: aqueles na área de San Francisco tendem a ser mais progressistas do que aqueles que vivem no Vale Central, em áreas mais agrícolas.
Da mesma forma, a religião desempenha um papel. “A porcentagem de evangélicos cresceu, e eles, em geral, tendem a ser mais republicanos e fazem parte dos grupos” nos quais uma mudança de voto de democrata para republicano foi mais frequentemente vista nas últimas eleições presidenciais de 2020, destacou o sociólogo da UCLA.
Republicanos ganham terreno
Nesta campanha eleitoral, os democratas, que receberam o apoio da maioria da população latina nas últimas décadas, colocaram seu foco em questões sociais como o aborto, deixando de lado a economia, a questão mais importante para 80% dos eleitores latinos nestas eleições, de acordo com um estudo do Pew.
É por isso que se abriu uma janela de oportunidade para os republicanos, que centram sua mensagem na economia, com a inflação em seus níveis mais altos em 40 anos.
De acordo com as pesquisas, no país como um todo, os democratas continuam obtendo mais votos latinos do que os republicanos, mas a margem está diminuindo cada vez mais.
“Os republicanos investiram todo o seu orçamento na questão da inflação e do custo de vida”, disse César Grajales, diretor de relações públicas da Iniciativa Libre, organização que promove o voto conservador.
O erro dos democratas, em sua opinião, foi “negligenciar” os eleitores latinos e não abordar em suas campanhas as políticas que lhes interessam, como aquelas voltadas para a economia.
Domínguez-Villegas concorda, lembrando que no ano passado os republicanos investiram mais em campanhas para alcançar eleitores latinos ou recrutar candidatos de origem hispânica.
Como exemplo, ele citou o caso da legisladora republicana Mayra Flores, que ganhou uma eleição especial em junho para a vaga na Câmara dos Representantes em seu distrito no sul do Texas, ficando com uma cadeira que os democratas ocupavam há décadas.
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