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Demografia

Migração desafia livre comércio global

Manifestantes deitaram de mãos dadas no calçadão por cerca de meia hora | LUISA DE PAOLA/ AFP PHOTO
Manifestantes deitaram de mãos dadas no calçadão por cerca de meia hora (Foto: LUISA DE PAOLA/ AFP PHOTO)

Gente de todos os cantos do mundo estão pondo o pé na estrada em busca de melhores condições de vida. Deixam para trás amigos e família na esperança de sucesso econômico no exterior, não raro uma terra desconhecida e hostil. No mundo globalizado de hoje, em que as mercadorias circulam com cada vez mais rapidez e facilidade, os migrantes se tornaram um bem precioso e especialmente polêmico. Afinal, como questiona Mark Anderson, jornalista do site Strategic News Service, em um texto sobre a imigração e a globalização: "Você pode parar o comércio com o país X amanhã. Mas e se você se tornar o país X?"

Com as pessoas nos países ricos tendo cada vez menos filhos, a importância da mão-de-obra estrangeira e seu impacto no aumento da taxa de natalidade ficam cada vez mais difíceis de ser questionados. Por outro lado, grande parcela da população desses países que recebem os estrangeiros acredita que eles prejudicam a economia interna, tirando benefícios sociais ou reduzindo o salário dos trabalhadores locais menos qualificados, e teme que, em grande número, não consigam se integrar plenamente e desconfigurem a cultura da terra adotada.

Nos EUA, os imigrantes, especialmente latino-americanos, já somam quase 40 milhões. Na Rússia, a população de chineses é a que cresce mais rapidamente. Eram apenas 5 mil no começo dos anos 80 e hoje representam mais de 3 milhões. Turcos estão indo para a Alemanha, filipinos para o Japão e poloneses para a Inglaterra.

Segundo a professora do Departamento de Geografia da UFPR, Gislene Aparecida dos Santos, que estuda a migração de brasileiros para os EUA, apenas o desequilíbrio econômico entre os países não explica a migração. "É preciso que se crie um ambiente para a migração. Existem laços que facultam o movimento. Uma rede bastante complexa é formada e um migrante leva outro." Outro fator que explica a atual onda mundial é a possibilidade de se viver entre dois países. "Nas migrações no fim do século 19, o migrante tinha dificuldade de retorno; era uma migração de ruptura. Hoje, pelas condições de comunicação e transporte, é possível viver entre dois países", afirma.

Para o economista inglês Philippe Legrain, em matéria de imigração os pontos positivos superam os negativos. "Acredito que os imigrantes têm duas grandes qualidades: são trabalhadores e empreenderores. Todo imigrante é também um emigrante, e é preciso muita coragem e empreendimento para se desarraigar rumo a uma terra estrangeira", diz em seu livro "Imigrantes: seu país vai precisar deles" (ainda inédito no Brasil).

Há ainda economistas que defendem a imigração como uma forma de "curar" a pobreza dos países em desenvolvimento. Em carta aberta ao presidente dos EUA, George W. Bush, no ano passado, o professor de economia da Universidade de George Manson, Alex Tabarrok, apoiado por outros nomes conhecidos da área, como o professor de Harvard Greg Mankiw e o Nobel de 2002, Vernon Smith, afirma que a "imigração é o melhor programa anti-pobreza. O sonho americano é uma realidade para muitos imigrantes que não só aumentaram seus padrões de vida como também mandam bilhões de dólares às famílias que ficaram em seus países de origem – uma forma verdadeiramente eficiente de doação do exterior."

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