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Mikhail Gorbachev, último líder da União Soviética, morreu nesta terça-feira (30). Segundo informações da Sputnik, o ex-chefe de Estado, que estava com 91 anos, morreu “após ser diagnosticado com uma grave doença”, mas a agência estatal russa não deu maiores detalhes. Em junho, foi divulgada a notícia de que Gorbachev estava com uma doença renal grave.
Ele foi secretário geral do Partido Comunista da União Soviética e chefe de Estado de 1985 até o colapso do país, em 1991. Gorbachev na verdade foi o primeiro e o último presidente da União Soviética, por ter sido eleito pelo Parlamento em março de 1990.
Uma fonte próxima da família disse à agência de notícias Tass que Gorbachev será enterrado no cemitério Novodevichy, em Moscou, ao lado da esposa Raisa, que morreu em 1999.
Gorbachev implantou durante seu governo as políticas glasnost (“abertura”), que permitiu maior liberdade de expressão e imprensa na União Soviética, e perestroika (“reestruturação”), que descentralizou as decisões econômicas. Nas relações internacionais, sua aproximação com o presidente americano Ronald Reagan (1981-89) rendeu acordos para reduzir tensões nucleares e levou ao fim da Guerra Fria.
Ao contrário dos líderes soviéticos que enviaram tanques para reprimir revoltas na Hungria em 1956 e na Tchecoslováquia em 1968, Gorbachev se negou a fazer o mesmo quando ocorreram protestos por democracia no bloco comunista em 1989.
No seu governo, ocorreu em 1986 o acidente nuclear de Chernobyl, o pior desse tipo na história. A princípio, o poder soviético tentou abafar o incidente, e a demora para evacuar o entorno causou muitas mortes e problemas de saúde na população local.
Em 1990, Gorbachev recebeu o Prêmio Nobel da Paz “pelo papel de liderança que desempenhou nas mudanças radicais nas relações Leste-Ocidente”.
Em entrevista à Associated Press em 1992, o ex-líder soviético disse que se orgulhava do seu legado. “Eu me vejo como um homem que iniciou as reformas necessárias para o país, para a Europa e para o mundo”, afirmou. “Muitas vezes me perguntam se eu começaria tudo de novo se tivesse que repetir. Sim, de fato. E com mais persistência e determinação.”
Porém, na Rússia pós-comunista, ele se tornou uma espécie de bode expiatório, conforme relatado no livro “O Fim do Homem Soviético”, da escritura bielorrussa vencedora do Nobel de Literatura Svetlana Aleksiévitch, devido ao fim do império soviético e às dificuldades enfrentadas pelo país na transição para a economia de mercado.
O economista Ruslan Grinberg declarou em junho, após visitar Gorbachev no hospital: “Ele deu liberdade para todos nós – mas não sabemos o que fazer com isso”.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que o presidente russo, Vladimir Putin, expressou “profundo pesar pela morte de Gorbachev” e “pela manhã, enviará um telegrama de condolências à família e amigos”, informou a agência de notícias Interfax.