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O presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou na sexta-feira, durante o discurso de abertura das sessões ordinárias da Assembleia Legislativa, que o seu governo fechará a agência pública de notícias Télam. Ao fazer um balanço de algumas das realizações de seu governo nos 82 dias desde que assumiu o cargo, em 10 de dezembro do ano passado, o libertário destacou o fechamento do Instituto Nacional contra a Discriminação, Xenofobia e Racismo (Inadi), que descreveu como “polícia do pensamento” que “gastou 2,8 bilhões de pesos para manter militantes pagos”, acrescentando que, “na mesma linha, vamos fechar a agência Télam”, antecipou o presidente, sem oferecer mais detalhes sobre a operação.
O mandatário também se referiu à “imoralidade” de “gastar dinheiro para comprar a vontade de jornalistas” por meio de publicidade oficial nos veículos de comunicação, que seu governo suspendeu por um ano, “em um país onde as pessoas estão passando fome”.
Fundada em abril de 1945, a Télam estava na mira dos libertários desde a campanha eleitoral, durante a qual vários líderes se referiram à sua possível privatização ou fechamento, assim como o restante da imprensa pública. No entanto, na sexta-feira o presidente mencionou apenas a Télam.
Em 5 de fevereiro, o governo argentino publicou no Diário Oficial um decreto no qual todos os veículos de comunicação estatais sofrerão intervenção por um ano como parte de sua política de reorganização de empresas públicas. O portal Educ.ar, a Radio Nacional, a Televisión Pública, a Télam e os canais de conteúdo público segmentado (Encuentro, Paka Paka, Depor TV, ACUA Mayor e ACUA Federal) foram incluídos na lista de veículos de comunicação que sofrerão intervenção por um ano, com a opção de prorrogação. A gestão do Polo de Produção Audiovisual e os ativos do Banco Audiovisual de Conteúdos Universais Argentino (Bacua) também foram incluídos.
De acordo com o decreto, a missão da intervenção é “elaborar um plano de reformulação, reajuste e ação para as empresas”, que incluirá a revisão da administração de recursos, a modificação do regime de contratação e a nomeação ou suspensão de funcionários. O documento nomeou Diego Chaher e Diego Marías como interventor e vice-interventor, respectivamente, da Radio y Televisión Argentina e, em caráter ad honorem, da Télam, Contenidos Públicos e Educ.ar. Ambos estão sob a autoridade do chefe do gabinete de ministros, Nicolás Posse.
Sindicatos protestam contra medida
No sábado, os sindicatos e organizações civis de imprensa da Argentina rechaçaram o fechamento da agência estatal de notícias. “Ratificamos nosso compromisso de defender a Télam, cada um dos meios de comunicação públicos e todas as empresas estatais, e faremos isso com todas as ações legais, sindicais e políticas que sejam necessárias para proteger tanto seu papel social na democracia como todas as fontes de trabalho”, alertaram em comunicado a Federação Argentina de Trabalhadores da Imprensa (Fatpren) e o Sindicato da Imprensa de Buenos Aires (Sipreba).
“O fechamento da Télam não seria apenas ilegal, mas também ilegítimo”, afirmaram os sindicatos a propósito da agência, que conta com cerca de 700 funcionários e correspondentes em todas as províncias. Já o Fórum de Jornalismo Argentino (Fopea) ratificou neste sábado em comunicado sua “posição a favor da existência de meios de comunicação públicos não governamentais, que visam respeitar a liberdade de expressão e o direito à informação dos cidadãos”, em um “contexto de crescente desinformação”. O Fopea rechaçou as críticas de Milei à imprensa, alertando que estas “só agravam a hostilidade e a intolerância contra o jornalismo”.