Dezenas de milhares de nigerianos protestaram nesta quarta-feira, negando-se a suspender a greve contra o fim dos subsídios aos combustíveis, considerada ilegal pelo governo, enquanto sindicatos ameaçavam interromper a importante produção de petróleo do país.
As autoridades decretaram toque de recolher de 24 horas na região central da Nigéria, cenário de distúrbios nos quais morreu um policial, enquanto prosseguia a greve geral, declarada ilegal pelo governo nas últimas horas desta terça-feira.
No nordeste da Nigéria, testemunhas informaram que homens armados executaram quatro pessoas, provavelmente cristãos, e atribuíram estes assassinatos a supostos membros do grupo islamita Boko Haram.
A greve geral contra a suspensão das subvenções dos combustíveis, que provocou uma rápida alta nos preços, pôs em dificuldades o presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, levando os operadores do mercado petroleiro mundial a observar com atenção o que acontece no país.
Apesar das ameaças governamentais de reter os salários dos grevistas, os manifestantes foram às ruas em vários lugares do país, protagonizando confrontos com a polícia.
Em Lagos, a principal cidade nigeriana, ocorreu uma das maiores manifestações, com 10.000 pessoas dançando e cantando contra o governo.
Alguns avaliavam a possibilidade de acampar na rua.
"Vim com água e minha escova de dentes porque não vamos abandonar esta briga até que o combustível custe 65 nairas", ou seja, 30 centavos de euro, disse Akinola Oyebode, de 23 anos, referindo-se ao preço do litro da gasolina antes que o governo suprimisse as subvenções, em 1º de janeiro.
"Não nos deixaremos intimidar pela polícia porque nosso protesto é legítimo e constitucional", acrescentou.
Em Kano, principal cidade do norte do país, uma multidão calculada em dezenas de milhares de pessoas protestou nas ruas.
Por enquanto, a produção de petróleo não foi afetada, mas sindicatos da indústria petrolífera da Nigéria, primeiro país da África em produção do ouro negro, ameaçaram interrompê-la se o governo não cumprir suas reivindicações.
"Esperamos os resultados das discussões entre as confederações sindicais e o governo hoje (quarta-feira). Se o resultado não for favorável, nos levará a interromper a produção", declarou Tokunbo Korodo, dirigente de um dos sindicatos de trabalhadores do petróleo, o NUPENG.
"Ordenamos às plataformas de produção que se ponham em alerta vermelho para deixar de produzir", declarou o presidente do outro sindicato do setor, PENGASSAN, Babatunde Ogun.
Embora o preço do petróleo tenha baixado na Europa nesta quarta-feira por motivos vinculados com a situação na zona do euro, analistas do setor calculavam que, se esta interrupção se concretizar na Nigéria, a queda do preço do barril no mercado mundial se atenuaria.
Por outro lado, no centro da Nigéria, o governo do estado do Níger "decretou toque de recolher de 24 horas (...), após a ordem ser transgredida em Minna", capital deste estado nigeriano.
O porta-voz policial do estado do Níger confirmou que um inspetor de polícia morreu durante os distúrbios.
No nordeste do país, moradores de Potiskum informaram que homens armados mataram quatro igbos, membros de uma etnia majoritariamente cristã.
"Seu automóvel acabava de dobrar em um posto de gasolina, onde supostos membros da Boko Haram armados os seguiram e atiraram contra os igbos, matando-os na hora", disse um morador.