Manifestantes vestem máscaras de gás em protesto contra o presidente georgiano Mikheil Saakashvili em Tbilisi| Foto: David Mdzinarishvili / Reuters

Mais de 10 mil georgianos realizaram nesta sexta-feira (7) uma manifestação contra o presidente do país, Mikheil Saakashvili, intensificando as pressões sofridas pelo governo dele depois da esmagadora derrota para a Rússia numa guerra recente.

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O protesto organizado na capital Tbilisi marcou o aniversário de um ano de ações repressivas adotadas contra manifestantes da oposição, quando a polícia usou balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e canhões de água para colocar fim a dias de mobilização do lado de fora do Parlamento.

Apoiado pelo Ocidente, Saakashvili subiu ao poder em 2003, em meio à "Revolução Rosa", prometendo consolidar a democracia na ex-República soviética. A oposição diz, no entanto, que o dirigente ficou muito longe do que se esperava dele.

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Governos do Ocidente, entre os quais o maior aliado de Saakashvili, os EUA, continuam a pedir por mais independência para o Poder Judiciário e liberdade para os meios de comunicação e os políticos oposicionistas.

"Estamos iniciando uma nova onda de confrontação civil e não vamos desistir até que novas eleições sejam convocadas", afirmou à multidão de manifestantes Kakha Kukava, um líder do Partido Conservador (oposição).

Os que discursaram no evento exigiram eleições parlamentares e presidenciais no começo de 2009. E repetiram acusações sobre ter havido fraude no pleito anterior.

As vozes de descontentamento tornaram-se mais frequentes desde a guerra de cinco dias contra a Rússia, em agosto, quando o governo russo enviou tanques e soldados para rechaçar uma ação militar da Geórgia na região separatista da Ossétia do Sul. O governo georgiano tentava então retomar o controle sobre aquela área.

"Saakashvili deveria renunciar", afirmou o aposentado Vakhtang Dolidze. "Ele foi eleito pelo povo e trouxe vergonha para nós ao perder territórios na guerra."

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Diplomatas e analistas do Ocidente reconhecem que a popularidade do presidente parece ter sido abalada. Mas advertem que o descontentamento pode aprofundar-se à medida que a economia acusar o golpe da guerra perdida e da crise financeira global.

"Lição amarga"

Os adversários de Saakashvili dizem que, ao lançar o ataque contra a Ossétia do Sul, que havia expulsado as forças georgianas dali no começo da década de 90, o presidente atirou o país em uma guerra que não poderia vencer e nem sustentar.

O Exército foi derrotado, o governo russo reconheceu como países independentes as duas regiões separatistas da Geórgia e milhares de georgianos expulsos de suas casas pelo conflito continuam sem lar neste momento em que o inverno aproxima-se.

A manifestação desta sexta-feira saiu do Parlamento e chegou ao palácio presidencial, onde os líderes dela entregaram suas demandas.

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Dezenas de milhares protestaram durante dias em novembro passado. O governo então mobilizou a polícia e invadiu o principal canal de TV da oposição, a Imedi, tirando-a do ar.

Mas os adversários do governo continuam divididos. Um dos principais partidos oposicionistas, o dos cristãos-democratas, realizou sua própria manifestação do lado de fora da sede da Imedi.

O líder dessa legenda, Giorgi Targamadze, disse que os fatos ocorridos um ano atrás "debelaram as ilusões de que um governo galgado ao poder por meio da violência conseguiria fazer bem ao país."

Ciente de sua situação no pós-guerra, Saakashvili prometeu realizar reformas amplas a fim de fortalecer o Parlamento e a independência do Judiciário e dos meios de comunicação. No entanto, alguns diplomatas do Ocidente continuam céticos.

Respondendo a comentários feitos pelo dirigente na semana passada, o presidente do Parlamento, David Bakradze, disse na sexta-feira que a violência do ano passado havia sido "uma lição muito amarga e muito importante para todos nós".

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