Milhares de seguidores de um líder sul-africano defensor da supremacia branca assassinado na semana passada se dirigiram nesta sexta-feira para o funeral de Eugene Terreblanche, num momento de grande tensão racial no país. Muitos dos presentes chegaram fardados.

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Dois empregados negros da fazenda de Terreblanche foram indiciados por terem matado Terreblanche no sábado. A polícia diz que uma disputa salarial motivou o crime, mas o partido ao qual o militante era ligado aponta razões políticas.

Terreblanche, de 69 anos, estava politicamente marginalizado depois de ver frustrados os seus esforços para preservar o regime de segregação racial do apartheid, no começo da década de 1990. Seu assassinato, no entanto, expõe as divisões raciais que permanecem no país, 16 anos após o fim do regime da minoria branca.

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"Achamos que foi um assassinato político, não um homicídio simples", disse André Visagie, secretário-geral do Movimento de Resistência Africâner (AWB, o partido de Terreblanche), em frente à fazenda dele, na localidade rural de Ventersdorp, 100 quilômetros a oeste de Johanesburgo.

Enquanto o caixão era levado para a igreja local, os participantes cantavam o hino sul-africano da época do apartheid. Como o espaço era limitado, milhares de seguidores dele tomavam as ruas da acanhada Ventersdorp. A antiga bandeira sul-africana e a bandeira do partido - que lembra uma suástica nazista -ondulavam sobre caminhonetes.

A polícia foi mobilizada, e helicópteros sobrevoavam as ruas, onde poucos negros eram vistos. A igreja suspendeu suas restrições habituais ("só para brancos"), de modo a permitir o acesso de jornalistas negros.

O presidente Jacob Zuma pediu calma após o homicídio, ocorrido a pouco mais de dois meses do início da Copa do Mundo de futebol no país. O AWB descartou represálias violentas, mas o clima era de militância inflamada entre alguns participantes do funeral.

"Estamos aqui hoje para declarar guerra e vingar a morte do nosso líder", disse um empresário de 46 anos, oriundo da província de Mpumalanga (nordeste), que não quis se identificar. "A maioria dos homens brancos entre 35 e 55 anos tem treinamento militar, e estamos preparados para usar as nossas habilidades."

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O assassinato intensificou a sensação entre os seguidores do AWB -- uma ínfima minoria entre os brancos, que são 10 por cento dos 48 milhões de sul-africanos -- de que eles estão sendo perseguidos pelo Congresso Nacional Africano (CNA), o partido no poder desde 1994.

No mês passado, o líder da juventude do CNA, Julius Malema, causou polêmica ao entoar um hino negro da época da luta contra o apartheid, no qual um dos versos diz "Mate o bôer" - termo que significa "fazendeiro" e alude aos descendentes dos colonizadores brancos. O hino está proibido pela Justiça, que considera que ele prega o ódio racial.

O CNA orientou Malema a evitar declarações polêmicas a propósito da morte de Terreblanche.

Na sexta-feira, o CNA criticou Malema por causa de comentários feitos em uma entrevista coletiva na quinta-feira e por ter expulsado um jornalista britânico sob xingamentos. O partido disse que o militante será convocado para discutir o assunto.