O papa Francisco realizou na sexta-feira (27) uma bênção extraordinária para levar ao mundo uma mensagem de esperança em meio à pandemia do novo coronavírus. Apesar de estar praticamente sozinho na Praça São Pedro, no Vaticano, ele falou para milhões de pessoas que acompanharam a oração por emissoras de TV e de rádio e, também, pela internet.
Nos maiores canais católicos do YouTube, mais de um milhão de pessoas acompanharam o evento. Em português, o vídeo postado nas rede sociais da Vatican News teve mais de 1,7 milhão de visualizações, e no canal da Rede Vida, no YouTube, a oração histórica já tinha tido quase 400 mil visualizações neste sábado (28).
A Basílica e a Praça de São Pedro estão fechados para visitação desde 10 de março, quando o Vaticano passou a seguir as medidas adotadas pelo governo italiano para a contenção da propagação do novo coronavírus. Quatro dias antes, a cidade-Estado havia registrado o primeiro caso de Covid-19. Até agora, cinco infecções foram notificadas, sendo que um dos pacientes é um funcionário da Secretaria de Estado do Vaticano que mora na Casa Santa Marta, residência oficial do papa Francisco, motivo pelo qual Francisco fez um segundo teste para o vírus nesta semana, cujo resultado deu negativo, segundo o Vaticano.
"Deus onipotente e misericordioso, olha a nossa dolorosa situação: conforta teus filhos e abre nossos corações à esperança, porque sentimos sua presença de Pai em nosso meio", disse o pontífice ao abrir a oração na noite gelada de sexta-feira, a qual o Vaticano chamou de "Uma Oração Extraordinária no Tempo da Pandemia".
O trecho escolhido para a oração dos fiéis foi extraído do Evangelho de Marcos. “Há semanas, parece que a tarde caiu. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e de um vazio desolador”, disse o pontífice de 83 anos e que teve parte de um pulmão removido por causa de uma doença que teve durante a juventude. “Nos vimos amedrontados e perdidos”, acrescentou. Neste mesmo dia, minutos depois, o governo italiano anunciou que 969 pessoas haviam morrido de Covid-19 nas últimas 24 horas.
Porém o papa continuou dizendo que esses sentimentos fizeram as pessoas entender que “estamos todos no mesmo barco” e que “fomos chamados a remar juntos”. Para ele, essa emergência pode ser uma oportunidade das pessoas se reaproximarem uma das outras, já que, até agora, estavam “muito preocupados com sua imagem e não com os outros”.
“Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: ‘Acorda, Senhor!’”.
O pontífice também agradeceu pelos heróis anônimos que estão lutando a batalha contra o coronavírus na linha de frente: médicos, enfermeiros, funcionários de supermercados, pessoal da limpeza, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes e muitos outros que, segundo disse, compreenderam que ninguém se salva sozinho. Por fim, ele pediu à população para que tenha fé e não tenha medo, porque Deus “tem cuidado de todos”.
Depois da oração, o papa Francisco concedeu a indulgência plenária ao mundo ("Urbi et Orbi"), permitindo que os mais de 1,3 bilhão de católicos redimissem a pena que teriam de cumprir no Purgatório - uma indulgência que é concedida ordinariamente somente em datas importantes, como Natal e Páscoa.
O momento histórico foi registrado em imagens impressionantes que mostram Francisco sozinho, pequeno diante da grandiosa Praça São Pedro.
Novas orientações da Igreja Católica
A pandemia de Covid-19 alterou as orientações da Igreja Católica para a celebração de missas, especialmente no momento em que a Páscoa se aproxima. O arcebispo Arthur Roche, secretário da Congregação para o Culto Divino, disse que, neste momento a Igreja buscará parar o contágio, mas sem interromper as orações.
Segundo ele, nos países mais atingidos pela doença, onde são previstas restrições estabelecidas pelas autoridades civis para evitar aglomerações e movimentos das pessoas, os bispos e os sacerdotes foram orientados a celebrar os ritos da Semana Santa sem a presença de pessoas e em lugar adequado, evitando a concelebração e omitindo a saudação da paz. No Vaticano, as missas celebradas pelo papa não terão participação popular.
O que dizem as novas orientações, segundo o arcebispo:
- O Domingo de Ramos (5 de abril) será celebrado dentro das igrejas, sem a procissão externa.
- A Missa Crismal, que prevê a participação de todos os sacerdotes do presbitério, poderá ser transferida para uma outra data, dependendo das diferentes situações nos países.
- Na Missa na Ceia do Senhor, na quinta-feira Santa, não haverá o lava-pés que, na realidade, já é facultativo, e nem a procissão com o Santíssimo ao final da Missa.
- A Liturgia da Paixão do Senhor, na Sexta-feira Santa, terá intenções especiais para os doentes, os defuntos e para quem sofre e se encontra em dificuldade, e o tradicional beijo à Cruz será dado somente pelo celebrante.
- A Vigília Pascal só será celebrada nas catedrais e nas igrejas paroquiais.
- E as procissões da Semana Santa e do Tríduo Pascal podem ser transferidas para setembro.
No dia da Páscoa, 12 de abril, o papa vai conceder, novamente, a bênção “Urbi et Orbi".
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