Um vídeo no YouTube que mostra uma criança de nove anos dirigindo uma Ferrari -e que, até hoje, já fora visualizado mais de 1 milhão de vezes- resultou na prisão do pai do garoto, o milionário Mohammed Nisham, no Estado de Kerala (sul da Índia). Detido por colocar em risco a vida de uma criança e deixar um menor dirigir, Nisham foi liberado depois de pagar fiança de 5.000 rupias indianas, o equivalente a R$ 184 no câmbio de domingo.
No vídeo, filmado pela mãe do garoto no dia do aniversário dele, 9 de abril, o banco do passageiro da Ferrari é ocupado pelo irmão mais novo do motorista, de cinco anos. A mãe, Amal Nisham, diz no texto que acompanha as imagens no YouTube que há seis meses prometia ao filho as chaves da Ferrari. "É um motorista confiante e cuidadoso, acostumado a dirigir os nossos outros carros -até o Lamborghini e a Bentley."
A divulgação da "voltinha de Ferrari" provocou revolta entre os usuários do YouTube e fora dele, sobretudo na Índia, o que acabou levando o pai a se entregar à polícia em uma delegacia próxima da cidade portuária de Kochi.
Entrevistada por uma TV indiana, Amal disse não ver nada de reprovável no filho pequeno dirigindo (na Índia, assim como no Brasil, a idade mínima para obter a carteira de motorista é 18 anos)."Estou orgulhosa. Ele dirige desde os cinco anos. É um feito para uma criança de tão pouca idade", afirmou a mãe.A Ferrari também foi apreendida pelos policiais -mas, segundo as autoridades, o carro será devolvido ao milionário em poucos dias, assim que os documentos do caso tiverem sido preenchidos.
Na Rússia, a polícia de São Petersburgo abriu investigação sobre outro vídeo do YouTube, em que o casal Dmitri e Lena Mikulchik mostra a sua filha de oito anos dirigindo um Audi no que parece ser uma estrada movimentada.
Novos-ricos
Segundo o inspetor de polícia M.V. Verghese, Mohammed Nisham tem empresas nos setores imobiliário e de tabaco. A família possui 18 carros -incluindo a Ferrari, o Lamborghini e a Bentley, todos de luxo-, de valor estimado em US$ 4 milhões (aproximadamente R$ 8 milhões).O caso do minimotorista é emblemático do que a população indiana vê como excessos dos novos milionários do país -classe que é um dos frutos do forte crescimento do PIB da Índia, com picos superiores a 10% em 2007 e 2010.
No ano passado, relatório sobre a riqueza global divulgado pelo Boston Consulting Group mostrava que, em 2011, 175 mil pessoas no mundo haviam ascendido à categoria de milionários, e a grande maioria dos "novos-ricos" vinha da China e da Índia.
De acordo com o jornal britânico "Financial Times", em 2012, o clube dos bilionários da Índia congregava 61 pessoas, cuja riqueza somada chegava a US$ 250 bilhões (cerca de R$ 500 bilhões).Esses dados colocam o país asiático ao lado da Rússia, seu parceiro no grupo Brics, entre os lugares de maior concentração de riqueza no mundo. Ao mesmo tempo, a Índia continua assolada pela pobreza -ocupa apenas o 136º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, bem atrás do Brasil, que é o 85º.Um dos grandes símbolos da desigualdade indiana é a casa que o homem mais rico do país, o empresário Mukesh Ambani, construiu para si em Mumbai, cidade onde mais da metade da população vive em favelas. Concluído em 2010, o prédio tem 27 andares e é avaliado em US$ 500 milhões.