Perfil
Empresário tem de time de futebol a fábrica de cigarros
A trajetória do novo presidente paraguaio é marcada pelo mundo dos negócios. Entre as 25 empresas do Grupo Cartes estão o Banco Amambay, a fábrica de refrigerantes Pulp, que conta com uma sucursal nos Estados Unidos, e Tabacalera Del Este (Tabesa), com sede em Hernandárias, nos limites da fronteira com o Brasil. A fábrica produz cigarros da marca Eight, contrabandeados para o Brasil e líder de apreensões em Foz do Iguaçu, segundo a Receita Federal. Só no ano passado 26 milhões de maços foram retidos.
A vida empresarial de Cartes começou a ser traçada quando ele era jovem e vendia peças de aviões Cessna, estimulado pelo pai, representante da marca no Paraguai. Ainda jovem, se especializou em mecânica de aviões nos Estados Unidos e, com o tempo, montou o atual império empresarial, um dos mais sólidos do Paraguai. Em 2001, Cartes também foi dirigente do Club Libertad, uma equipe que estava arruinada e hoje disputa a Copa Libertadores de América.
Divorciado e pai de três filhos duas mulheres e um homem , Cartes ingressou ao Partido Colorado em 2009. Nunca havia disputado uma eleição, ocupado um cargo público e sequer votado, a não ser nas eleições internas do Partido Colorado. Ontem, foi a primeira vez que votou para presidente, ou seja, nele mesmo.
Apesar de o voto ser obrigatório no Paraguai, a cobrança de multa não é regulamentada pela Justiça. Por isso, a imposição da lei não faz diferença.
Para sair candidato pelo Partido Colorado, Cartes fez manobras para mudar o estatuto, que previa apenas a disputa ao cargo de presidente para aqueles que tivessem pelo menos 10 anos de filiação.
Tem uma imagem manchada por ter sido acusado de evasão de divisas e ligações com o narcotráfico no passado, mas não foi condenado. Esses fatos renderem a ele duras críticas por parte dos adversários durante a campanha.
Legislativo
Boca de urna aponta vitória de ex-presidente Lugo para o Senado
Uma pesquisa de boca de urna aponta que o ex-presidente do Paraguai Fernando Lugo será eleito para o Senado. Candidato pelo partido Guassu, o ex-bispo foi deposto em junho do ano passado em processo de impeachment sob a acusação de "mau desempenho de suas funções".
Ainda segundo a pesquisa, Lugo e o candidato Carlos Filizzola serão os dois únicos representantes do partido Guassu na Casa. O levantamento foi realizado pelo jornal ABC Color em parceria com a empresa First Análisis.
O milionário Horacio Cartes, 56 anos, sócio-majoritário de 25 empresas, é o novo presidente do Paraguai. Apurados 96% dos votos, às 22h30 de ontem (horário brasileiro), Cartes tinha 45,85% dos votos, seguido pelo candidato governista, o liberal Efraín Alegre (PLRA) com 36,9%. O jornalista Mario Ferreiro, da coligação Avança País, aparecia em terceiro lugar com 5,84%.
Em pronunciamento feito na central do Partido Colorado, por volta das 21h15, Cartes destacou que o vencedor das eleições foi o Paraguai. "Como paraguaios, devemos nos sentir muito orgulhosos do que podemos mostrar ao mundo", afirmou.
Com a vitória de Cartes, o Partido Colorado retoma o poder após ter sido destronado em 2008 pelo ex-bispo Fernando Lugo, que selou uma aliança com o partido do atual presidente, Federico Franco, e depois foi deposto em um impeachment relâmpago, em junho do ano passado. Antes da eleição de Lugo, os colorados comandaram o Paraguai por 61 anos consecutivos, incluindo o período da ditadura (1954-1989).
Apontado como um dos mentores da cassação do ex-bispo Fernando Lugo, Cartes fez uma campanha marcada por polêmicas. Declarou ser contra a união homossexual e foi acusado de ligações com o narcotráfico e negócios ilícitos na fronteira do país.
As acusações e nem mesmo a aliança feita entre liberais e partidários da União Nacional dos Cidadãos Éticos (Unace), legenda criada pelo ex-general Lino Oviedo, morto em fevereiro em acidente de helicóptero em plena campanha, conseguiram desviar Cartes de seu objetivo.
Conservador, durante a campanha o novo presidente não apresentou propostas consistentes para mudar o modelo econômico paraguaio e evitou falar no aumento de impostos.
Cartes assumirá o posto no dia 15 de agosto. Até lá, o comando do país fica sob a responsabilidade do atual presidente, o liberal Federico Franco.
O novo presidente não deve ter dificuldades para governar. A perspectiva é de que os colorados ganhem de 20 a 23 das 45 cadeiras no Senado, e contem ainda com apoio de senadores eleitos por outros partidos, embora não façam a maioria na Câmara.
Argentina
Logo após a confirmação da vitória de Cartes pela Justiça Eleitoral, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, saudou o vencedor e disse que espera o Paraguai de volta ao Mercosul. "O lugar do Paraguai está reservado no Mercosul junto com todos nós", disse a presidente.
O Paraguai foi suspenso do Mercosul e da União das Nações da América do Sul (Unasul) logo após o afastamento do ex-presidente Fernando Lugo pelo Congresso. Os vizinhos sul-americanos entenderam que houve rompimento da ordem democrática no país.
Patriota diz que eleição põe fim à ruptura da ordem democráticaAgência Estado
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, classificou o período entre a cassação do ex-presidente do Paraguai Fernando Lugo, em junho de 2012, e as eleições no país, ontem, como uma ruptura da ordem democrática.
"Esperamos que essa ruptura da ordem democrática chegue ao fim com as eleições", disse Patriota, em palestra durante o Encontro Nacional de Estudantes de Relações Internacionais (Eneri), na cidade de São Paulo.
O ministro citou a ação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), criada em 2008, na resolução de conflitos internos no continente. Entre os exemplos, ele nomeou justamente a reunião desta semana que reconheceu a vitória do chavista Nicolás Maduro nas eleições venezuelanas.
No pronunciamento, ainda sobre a América do Sul, Patriota afirmou que o Brasil ocupa uma posição de liderança no continente, e é a única nação das Américas com relações diplomáticas com todos os 193 países das Nações Unidas. Ele lembrou que, recentemente o Canadá rompeu as relações com o Irã.
Patriota citou também a dificuldade que o Brasil encontra para ser aceito como membro efetivo do Conselho de Segurança das Nações Unidas e exaltou o fato de o país ser ao menos incluído nos debates sobre o tema.
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