Antananarivo - O presidente de Madagáscar, Marc Ravalomana, cedeu ontem o poder aos militares do país, que por sua vez nomearam o líder da oposição, o ex-DJ Andry Rajoelina, como governante da ilha. Num pronunciamento por rádio, Ravalomana disse ter renunciado à presidência para que uma junta militar assumisse o governo. Os militares, no entanto, descartaram assumir o poder e algumas horas depois disseram ter passado o controle do país a Rajoelina. O oposicionista pressionou Ravalomana durante meses para que renunciasse e repassasse o poder a ele.
Andry Rajoelina, de 34 anos, é um ex-disc jockey e organizador de eventos e shows em Madagáscar. Empresário precoce, ele montou uma emissora de televisão no país no começo da década atual e entrou na política em 2008, quando foi eleito prefeito da capital do país, Antananarivo. Desde então, manteve uma disputa política com o presidente.
Rajoelina disse à emissora francesa de televisão LCI que tem o apoio do "povo, dos trabalhadores, dos soldados, sindicatos, de todos os grupos mais importantes do país". Segundo ele, o "povo dá o poder e também tira o poder".
O ex-DJ ingressou mais cedo ontem no palácio presidencial, sendo aplaudido por soldados amotinados que o respaldaram em sua queda de braço com o presidente, cada vez mais isolado.
Os soldados haviam ocupado o palácio deserto, utilizado normalmente para fins cerimoniais, na noite de segunda-feira. O presidente encontrava-se em sua residência oficial, cercado de correligionários e guardas armados.
Além dos soldados, Rajoelina foi recebido por curandeiros "mpiandry" especializados em exorcismo. No mês passado, o palácio foi palco de um confronto sangrento entre soldados e opositores no qual 25 pessoas morreram.
Acusações
O ex-DJ acusa Ravalomana de malversação de recursos públicos e de prejudicar a democracia de Madagáscar.
No domingo, Rajoelina autoproclamou-se presidente de um governo de transição e prometeu novas eleições em até dois anos. Ele instou o Exército na segunda-feira a prender o presidente, o que não se concretizou.
O mandato de Ravalomana estava previsto para terminar em 2011. Andry Rajoelina, segundo a Constituição do país, não tem idade para ser presidente.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban ki-moon, se disse ontem "gravemente preocupado" com os eventos em curso em Madagáscar.
A União Africana realizou uma reunião de emergência para discutir a crise em Madagáscar, em sua sede na Etiópia. O bloco discute se o país pode ser suspenso do órgão.