Milhares de militares israelenses reformados e ativos compareceram, nessa segunda-feira(24), ao Parlamento em Jerusalém para se juntar ao protesto em massa de cidadãos contra a reforma judicial promovida pelo governo, declarando "guerra contra a ditadura de Benjamin Netanyahu".
“O Exército pertence ao povo”, disse à Agência EFE Amir Elron, oficial reformado de 59 anos, enquanto protestava com cerca de 5 mil manifestantes que chegaram de todos os cantos de Israel ao Parlamento.
Junto com centenas de seus companheiros militares, Elron está acampado desde o último domingo (23) nas proximidades do complexo, onde a maioria, formada pela coalizão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, aprovou a primeira lei da polêmica reforma judicial, que busca enfraquecer a independência dos três poderes e dar mais liberdade de decisão ao Executivo.
"Estamos diante do Knesset, na vanguarda da guerra contra a ditadura de Netanyahu e seus parceiros ultraortodoxos e ultranacionalistas", exclamou um militar da ativa, que pediu anonimato por temer possíveis represálias de seus comandantes.
Tomer Naveh, um capitão do exército de 52 anos que serviu por mais de 30 anos, garante que o atual governo enviará seus soldados para "cometer crimes".
"Essa é uma luta por valores, pelas nossas vidas, pelos nossos filhos. Não vamos desistir nunca", gritou o soldado, enquanto a polícia reprimia a manifestação com canhões de água e tropas montadas.
"Destruidor do Estado"
Netanyahu "ficará na história como o destruidor do Estado de Israel e do povo judeu", disseram veteranos dos serviços de inteligência do Shin Bet em um comunicado divulgado.
Para o soldado Naveh, o Exército tem "absolutamente" o poder de pressionar o governo a reverter a reforma, tendo em vista que precisa de tropas para travar o conflito com os palestinos, com as milícias em Gaza, Líbano e Síria e, sobretudo, com seu principal inimigo, o Irã.
"Israel está cercado de inimigos, e os pilotos estão conosco, as forças especiais estão conosco, os soldados rasos estão conosco. O governo não tem nada, só pessoas loucas", disse.
Mais de 10 mil reservistas do Exército — incluindo especialistas em inteligência, ciberguerra e membros de unidades de elite — manifestaram a intenção de não servir até que o governo suspenda os processos legislativos para a reforma, tornando-se um dos pilares do movimento de protesto.
Além disso, mais de 1,1 mil pilotos ativos da Força Aérea não participaram de treinamento, enquanto 125 ex-chefes do Estado-Maior — incluindo o ex-primeiro-ministro Ehud Barak —, generais do exército, comissários de polícia e ex-chefes de Shin Bet e Mossad enviaram uma carta a Netanyahu expressando sua solidariedade com a greve de reservistas e soldados. O documento foi enviado no último sábado (22).
O ministro da Defesa, Yoav Gallant, expressou repetidamente a "séria ameaça à segurança nacional" representada pela ausência de tropas e, em março, pediu publicamente a suspensão da reforma judicial.
Isso provocou a fúria de Netanyahu, que o demitiu no dia seguinte, mas teve que recuar diante dos protestos de cerca de 700 mil pessoas a favor de Gallant, a maior manifestação desde que a reforma foi anunciada em janeiro.
"Mesmas obrigações"
O chefe do Estado-Maior, Herzi Halevi, criticou os reservistas dissidentes, afirmando que nenhum soldado "tem o direito de não se apresentar para o serviço ou recusar uma ordem".
"Se não tivermos uma força de defesa forte e unida, se os melhores de Israel não servirem no exército, não poderemos mais existir como país", disse.
Mas o oficial Elron aplaude a "coragem de falar" que os reservistas demonstraram.
"A coligação não foi eleita para mudar o sistema mas para governar, mas usam isso como se houvesse uma maioria que lhes permitisse transformar este país de uma democracia em uma ditadura", alegou.
Para este militar aposentado, o governo quer fazer dos soldados “cidadãos de segunda classe” porque protege os judeus ultraortodoxos que se recusam a prestar serviço militar por motivos religiosos.
“Se o Exército é do povo, todos devemos ter as mesmas obrigações”, enfatiza.
Para Naveh, a aprovação no Parlamento da lei que anula a doutrina da razoabilidade, que permitia ao Supremo Tribunal rever e revogar decisões ou nomeações governamentais que considerasse irrazoáveis, é uma derrota mas não o fim da guerra.
"Quando você luta por bons valores, você vai vencer, pode levar um tempo, um dia, um ano ou até mais, mas nunca vamos desistir", gritou.