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Ficção científica

Militares dos EUA incentivam pesquisas em biologia sintética

 | Ilustração: Felipe Lima
(Foto: Ilustração: Felipe Lima)

Armas ecológicas, biologia sintética e direito internacional. No ano passado, quando o exército dos Estados Unidos divulgou ima­­gens de um avião não tripulado que tinha o tamanho e a forma de um beija-flor zumbindo em um estacionamento, toda a mídia entrou em polvorosa.

A revista Time dedicou até mesmo uma capa para o assunto. Enquanto isso, sem fazerem alarde algum – apesar de anunciarem um enorme potencial para re­­modelar a guerra moderna – os militares emitiram um edital para que cientistas encontrassem formas de produzir explosivos para armas à base de micróbios.

Imagine uma cuba de levedura geneticamente modificada que gera produtos químicos para bombas e mísseis em vez de cerveja.

O edital se beneficia de novas pesquisas na área da biologia sin­­tética, uma ciência que aplica princípios da engenharia à ge­­nética.

Os cientistas possuem certo crédito humanitário por terem, durante a curta existência desse campo, programado bactérias e leveduras geneticamente para produzir combustíveis verdes pa­­ra jatos (atualmente sendo submetidos a testes por fabricantes de aviões de grande porte) e medicamentos contra a malária (cujo lançamento no mercado está previsto para 2013).

Trata-se de um começo auspicioso para uma ciência que prenuncia revolucionar a forma co­­mo fazemos as coisas. No futuro, poderemos fazer com que as cé­­lulas se juntem para constituir ob­­jetos muito mais complexos, como baterias de telefone celular, ou se comportem como mi­­núsculos computadores programáveis. Tal promessa, entretanto, apresenta também riscos.

As técnicas que fazem da biologia sintética uma ferramenta tão poderosa para inovar de mo­­do positivo podem ser usadas tam­­bém para destruir. A nova pesquisa dos militares em busca de explosivos biologicamente modificados ameaça reinaugurar um ramo de pesquisa que foi deixado de lado por 37 anos: a biotecnologia desenvolvida em função da guerra.

No mês passado, os governos que ratificaram a Convenção das Armas Biológicas e Tóxicas – o acordo internacional que baniu as armas biológicas – reuniram-se em Genebra para rever e atualizar o acordo. Como esperado, eles discutiram as redes terroristas e criticaram os países malfeitores acometidos pela doença do armamentismo. Mas eles também falaram das ciências emergentes e de como elas po­­deriam ser usadas para criar no­­vas ameaças.

Como as conferências que re­­visam a Convenção de Armas Bio­­lógicas (BWC) ocorrem apenas uma vez a cada cinco anos, essa ainda foi a segunda vez que a biologia sintética foi debatida como tópico.

Ao reconhecer o rápido progresso científico que está em curso, os participantes concordaram em reunir especialistas anualmente para monitorar os novos desenvolvimentos tecnológicos em relação à convenção.

Foguetes

Enquanto alguns setores do go­­verno têm se mostrado cautelosos, o Ministério da Defesa dos Es­­tados Unidos tem sido mais as­­sertivo ao apresentar suas in­­ten­­ções. Um edital de pesquisa desse ministério, por exemplo, solicita que biólogos sintéticos criem explosivos e combustíveis mais ecológicos para foguetes. Na "de­­claração de necessidade" de tal edital, o Programa Estratégico de Pesquisa e Desenvolvimento Am­­biental (SERDP), que procura tornar o serviço militar mais ecológico, argumenta que o uso de mi­­cróbios poderia eliminar os solventes de metais pesados e tóxicos na produção de explosivos convencionais.

Aparentemente, o projeto de criar armas de guerra mais ecológicas parece algo benigno, até mesmo benéfico, mesmo que um pouco incongruente. Mas a medida extrapola os limites definidos pela BWC em 1975 e reafirmados pelo governo dos EUA muitas vezes desde então.

O Artigo 1.º da BWC afirma que os signatários não devem produzir ou possuir agentes mi­­crobianos ou outros agentes biológicos "que não têm justificativa para propósitos profiláticos, cautelares ou pacíficos". Como os explosivos produzidos à base de micróbios em si não seriam armas, eles não aparentam violar a convenção. Dito isso, como parte da cadeia de produção e meio para confeccionar componentes de armas, eles também não se qualificariam como tendo "fins pacíficos".

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