Créditos
Saiba quem são os autores do texto da revista eletrônica Slate publicado pela Gazeta do Povo:
Rob Carlson
É diretor da Biodesic e autor de Biology Is Technology: The Promise, Peril, and New Business of Engineering Life ("Biologia é tecnologia: a promessa, o perigo e os novos negócios relacionados à criação da vida").
Daniel Grushkin
É jornalista especializado em ciência e cobre a intersecção entre ciência, negócios e cultura. Junto com Carlson, fundou o Genspace, um laboratório comunitário e espaço de formação em Biologia.
O artigo
O texto desta página começou no Future Tense, uma colaboração entre a Universidade Estadual do Arizona, a Fundação New America e a revista eletrônica Slate.
O projeto Future Tense investiga de que forma as novas tecnologias afetam a sociedade, a política e a cultura.
Objetivo
Edital busca defesa do país
O edital do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental Estratégico (SERDP) tem a ver com um movimento, amplamente presente no serviço militar, que busca desde aplicações da biologia sintética até a defesa do país.
No ano passado, a Agência de Projetos de Pesquisa de Defesa Avançada, mais conhecida como DARPA, prometeu US$ 30 milhões pelo que considerou como materiais e dispositivos de alto valor confeccionados por meio de seu Programa de Fundições Dinâmicas, e o Escritório de Pesquisa Naval propõe o uso da biologia sintética para produzir intermediários do TNT, possivelmente para armas.
Se produzidos com sucesso, os explosivos à base de micróbios apresentarão problemas difíceis, que vão extrapolar a alçada do direito internacional. Ao longo da história, os militares têm retido suas tecnologias, e os benefícios ambientais apregoados não irão impedir que as novas tecnologias caiam nas mãos erradas. Perder de vista rifles, mísseis Patriot ou aviões não tripulados é ruim o suficiente; perder de vista fábricas que autorreproduzem explosivos é toda uma outra questão. A qualidade que faz com que os micróbios sejam tão poderosos também pode torná-los difíceis de conter: uma única célula microscópica, adquirida por um criminoso ou inimigo, poderia, a princípio, multiplicar-se a ponto de encher um tanque dentro de poucos dias.
É preciso ter cuidado com os limites da biotecnologia
Mesmo que os programas sejam rechaçados por alguns por serem considerados eticamente equivocados, devemos defender a destinação de verbas militares à biologia sintética. A tecnologia, sobretudo, talvez possa fortalecer nossa segurança nacional, fornecendo alternativas ao petróleo estrangeiro. Mas também temos de ser cautelosos. Nem todos os projetos militares valem o preço pago moralmente, financeiramente ou de outra forma.
A Convenção de Armas Biológicas (BWC) já delineia como a biologia pode ser usada em aplicações militares.
O governo dos Estados Unidos deve considerar cuidadosamente o financiamento de pesquisas que podem vir a deixar essa questão pouco clara, já que outros países, e adversários em potencial, podem seguir outro rumo e empregar a biologia de modo agressivo, de maneira certamente desagradável.
Proceder sem refletir adequadamente sobre os riscos mina quatro décadas de consenso moral internacional sobre o uso apropriado da biologia. Além de ameaçar nossa segurança nacional.
Ao escrever isso, nós nos perguntamos em que momento os usos apropriados da biotecnologia se tornam inadequados. Trata-se de uma linha mutável que pode estabelecer a categoria insatisfatória do "você sabe que algo é inadequado quando esse algo se manifesta".
Se, como sociedade, nós nos educarmos sobre o potencial da tecnologia e acompanharmos ativamente o seu desenvolvimento, não seremos capazes de saber exatamente onde fica essa linha, mas com vigilância e diálogo, conseguiremos reconhecer pesquisas capazes de atravessá-la.
Armas ecológicas, biologia sintética e direito internacional. No ano passado, quando o exército dos Estados Unidos divulgou imagens de um avião não tripulado que tinha o tamanho e a forma de um beija-flor zumbindo em um estacionamento, toda a mídia entrou em polvorosa.
A revista Time dedicou até mesmo uma capa para o assunto. Enquanto isso, sem fazerem alarde algum apesar de anunciarem um enorme potencial para remodelar a guerra moderna os militares emitiram um edital para que cientistas encontrassem formas de produzir explosivos para armas à base de micróbios.
Imagine uma cuba de levedura geneticamente modificada que gera produtos químicos para bombas e mísseis em vez de cerveja.
O edital se beneficia de novas pesquisas na área da biologia sintética, uma ciência que aplica princípios da engenharia à genética.
Os cientistas possuem certo crédito humanitário por terem, durante a curta existência desse campo, programado bactérias e leveduras geneticamente para produzir combustíveis verdes para jatos (atualmente sendo submetidos a testes por fabricantes de aviões de grande porte) e medicamentos contra a malária (cujo lançamento no mercado está previsto para 2013).
Trata-se de um começo auspicioso para uma ciência que prenuncia revolucionar a forma como fazemos as coisas. No futuro, poderemos fazer com que as células se juntem para constituir objetos muito mais complexos, como baterias de telefone celular, ou se comportem como minúsculos computadores programáveis. Tal promessa, entretanto, apresenta também riscos.
As técnicas que fazem da biologia sintética uma ferramenta tão poderosa para inovar de modo positivo podem ser usadas também para destruir. A nova pesquisa dos militares em busca de explosivos biologicamente modificados ameaça reinaugurar um ramo de pesquisa que foi deixado de lado por 37 anos: a biotecnologia desenvolvida em função da guerra.
No mês passado, os governos que ratificaram a Convenção das Armas Biológicas e Tóxicas o acordo internacional que baniu as armas biológicas reuniram-se em Genebra para rever e atualizar o acordo. Como esperado, eles discutiram as redes terroristas e criticaram os países malfeitores acometidos pela doença do armamentismo. Mas eles também falaram das ciências emergentes e de como elas poderiam ser usadas para criar novas ameaças.
Como as conferências que revisam a Convenção de Armas Biológicas (BWC) ocorrem apenas uma vez a cada cinco anos, essa ainda foi a segunda vez que a biologia sintética foi debatida como tópico.
Ao reconhecer o rápido progresso científico que está em curso, os participantes concordaram em reunir especialistas anualmente para monitorar os novos desenvolvimentos tecnológicos em relação à convenção.
Foguetes
Enquanto alguns setores do governo têm se mostrado cautelosos, o Ministério da Defesa dos Estados Unidos tem sido mais assertivo ao apresentar suas intenções. Um edital de pesquisa desse ministério, por exemplo, solicita que biólogos sintéticos criem explosivos e combustíveis mais ecológicos para foguetes. Na "declaração de necessidade" de tal edital, o Programa Estratégico de Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental (SERDP), que procura tornar o serviço militar mais ecológico, argumenta que o uso de micróbios poderia eliminar os solventes de metais pesados e tóxicos na produção de explosivos convencionais.
Aparentemente, o projeto de criar armas de guerra mais ecológicas parece algo benigno, até mesmo benéfico, mesmo que um pouco incongruente. Mas a medida extrapola os limites definidos pela BWC em 1975 e reafirmados pelo governo dos EUA muitas vezes desde então.
O Artigo 1.º da BWC afirma que os signatários não devem produzir ou possuir agentes microbianos ou outros agentes biológicos "que não têm justificativa para propósitos profiláticos, cautelares ou pacíficos". Como os explosivos produzidos à base de micróbios em si não seriam armas, eles não aparentam violar a convenção. Dito isso, como parte da cadeia de produção e meio para confeccionar componentes de armas, eles também não se qualificariam como tendo "fins pacíficos".
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