Para olhos latino-americanos, uma junta militar tomando o poder e prometendo reconduzir um país à democracia soa como uma velha história com final infeliz. A confiança dos políticos e analistas egípcios nas boas intenções do Conselho Supremo das Forças Armadas - cujo chefe é o marechal Mohamed Hussein Tantawi por muito tempo ministro da Defesa de Hosni Mubarak - chega a ser intrigante.
Especialistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, porém, explicam que essa confiança é produto da história recente das Forças Armadas - reiterada pelo seu comportamento durante a "revolução" das últimas três semanas. "A história das Forças Armadas no Egito é muito diferente do que na América Latina, onde elas são objeto de desconfiança por causa dos golpes seguidos de regimes militares", diz o cientista político Amr el-Shobaki, presidente do Fórum Árabe por Alternativas, no Cairo.
Segundo ele, embora os três últimos presidentes egípcios - Gamal Abdel Nasser, Anwar Sadat e Hosni Mubarak - tenham sido militares, seus governos não foram considerados ditaduras militares. Isso porque, durante todo esse período, as Forças Armadas têm passado por um processo de crescente despolitização e profissionalização. "Até agora, Mubarak se interpunha entre o povo e o Exército", analisa El-Shobaki. "A revolução acabou com essa intermediação."
Ecoando uma visão bastante disseminada no Egito, que parece confirmada pela experiência das últimas semanas, o cientista político assegura: "É muito difícil o Exército se colocar contra o povo (no Egito)". Depois de uma semana de protestos, o comando das Forças Armadas divulgou um comunicado advertindo que não reprimiria o povo nas ruas, o que soou como uma sentença de morte do regime de Mubarak. "Tantawi não precisa ser substituído porque não disparou contra o povo. E os militares não têm inclinação para governar o país, até porque essa não será uma tarefa fácil. Não é atraente." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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