Manifestantes egípcios se escondem durante confronto| Foto: AFP PHOTO/MOHAMMED ABED

Tropas do Exército do Egito atacaram manifestantes pró-democracia pelo segundo dia consecutivo na praça Tahrir, no Cairo. Manifestantes foram espancados com bastões e câmeras de jornalistas foram destruídas. Não há informações sobre mortes nos confrontos deste sábado (17), mas nesta sexta-feira (16), nove manifestantes haviam sido mortos pelos soldados e cerca de 300 ficaram feridos, de acordo com o Ministério da Saúde.

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As cenas de violência indicam que os militares egípcios estão determinados a não permitir a transferência do poder aos civis, poucos meses depois da derrubada do regime do general Hosni Mubarak, que havia governado o país desde 1981. Imagens de televisão, fotografias e relatos de testemunhas mostram que as tropas intensificaram a violência contra os manifestantes.

Vídeos mostram policiais militares espancando mulheres; testemunhas relataram que soldados aplicaram choques elétricos em manifestantes já detidos. A manifestante Mona Seif, detida brevemente na sexta-feira, disse ter visto um oficial dar uma série de tapas no rosto de uma idosa e exigir que ela pedisse desculpas por ter participado dos protestos. "Foi uma cena humilhante. Nunca vi nada parecido em minha vida", acrescentou.

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A escalada de violência começou poucos dias depois das primeiras etapas da primeira eleição parlamentar realizada depois da derrubada de Mubarak. Em novembro, a repressão a uma outra série de protestos havia deixado mais de 40 mortos, mas naquela ocasião tratava-se da polícia; nos confrontos iniciados nesta sexta-feira, quem está reprimindo os manifestantes é o próprio Exército.

Entre os manifestantes mortos na sexta estava o respeitado xeque Emad Effat, 52, membro da Al-Azhar, a instituição religiosa muçulmana mais respeitada do Egito. Baleado no peito, ele foi sepultado neste sábado. Centenas de manifestantes participaram do funeral; depois disso, aos gritos de "retribuição, retribuição", eles caminharam em passeata até a praça Tahrir.

Em volta da praça, as ruas que levam às sedes do Congresso e do governo pareciam zonas de guerra. Chamas podiam ser vistas no prédio da Sociedade Geográfica do Egito, que fica diante da praça; manifestantes atiraram bombas incendiárias no prédio porque tropas usavam o telhado para jogar pedras e bombas de gás contra os participantes do protesto.

Em um hotel à beira da praça, soldados ameaçaram espancar uma funcionária para que ela revelasse em qual quarto havia uma equipe da rede Al-Jazeera filmando os conflitos. "A mulher chorava, gritava e dizia: 'Eu não sei'", disse um funcionário da rede. Os soldados descobriram a equipe da emissora e jogaram câmeras, baterias e equipamentos de iluminação na rua abaixo, atingindo um carrinho de um vendedor de batata-doce; parte do equipamento caiu sobre o fogareiro, iniciando mais um incêndio.

Segundo o manifestante Islam Mohammed, soldados também atacaram uma enfermaria improvisada pelos manifestantes, jogando medicamentos e material de primeiros socorros por toda a calçada.

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Um jornalista egípcio que havia sido detido disse à Associated Press que foi levado a um anexo do Parlamento, situado junto à praça Tahrir, onde foi espancado. "Eles me insultaram, disseram: 'Vocês da imprensa são traidores, vocês são partidários e prejudicam nossa imagem'".

O mesmo jornalista afirmou ter visto um grupo de homens e uma jovem sendo espancados; cada um deles foi cercado por seis ou sete soldados, alguns uniformizados, outros à paisana; os militares usaram barras de ferro e bastões elétricos. "O sangue cobria o chão, e um oficial ordenou aos soldados que limpassem", disse o jornalista, que pediu que seu nome não fosse revelado.

Fotografias postadas por ativistas nas redes sociais mostram militares arrastando mulheres capturadas pelo cabelo e espancando idosas.

Depois da derrubada de Mubarak, em fevereiro do ano passado, o poder foi assumido pelo Conselho Militar Supremo, que procurou ser visto como aliado do movimento popular vitorioso e guardião da democracia. Mas as tensões entre os militares e o movimento se intensificaram nos meses que se seguiram, em meio a exigências de transferência imediata do poder aos civis.

Em comunicado divulgado hoje, os militares negaram ter atacado "os revolucionários do Egito" e afirmando que seu alvo eram "bandidos que haviam atirado bombas incendiárias perto da sede do governo". O primeiro-ministro interino, por sua vez, negou que os militares tivessem disparado contra os manifestantes na sexta-feira.

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Já o manifestante Mustaf Ali, que havia sido ferido a bala durante os confrontos de novembro, acusou os integrantes do Conselho Militar de instigarem a violência "para encontrar justificativas para permanecer no poder e dividir o povo em facções". (AE-AP)