O ex-presidente da antiga Iugoslávia e da Sérvia Slobodan Milosevic morreu antes de receber a condenação mais provável pelos seus crimes de guerra e contra a humanidade: a prisão perpétua. Milosevic, que tinha 64 anos, carregava 66 acusações de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a Humanidade por seus atos durante a Guerra da Croácia (1991-1995), a Guerra da Bósnia (1991-1995) e a repressão sérvia aos albaneses kosovares entre 1998 e 1999.
Com sua pregação racista-nacionalista, Milosevic mergulhou os Bálcãs num banho de sangue e era considerado uma das figuras mais perversas da Europa no século XX. Ele era conhecido como "Carniceiro dos Bálcãs" por seu papel nas guerras que dilaceraram a região após a desintegração da antiga Iugoslávia na década de 90.
Milosevic sempre negou ter ordenado a matança de civis na guerra de Kosovo, em 1999. Segundo ele, suas ordens foram para que as Forças Armadas eliminassem apenas "os grupos terroristas" de etnia albanesa.
Entre as terríveis atrocidades das forças de segurança sérvias contra os albaneses de Kosovo, estava a morte de uma mulher deficiente queimada viva em sua própria casa, o assassinato de um bebê e o incêndio de uma mesquita, depois que a Otan começou a bombardear a Iugoslávia. Os crimes foram relatados por várias testemunhas que passaram pelo tribunal.
Um médico relatou que, na cidade de Suva Reka, um grupo de 40 a 50 homens, crianças e mulheres kosovares albanesas, uma delas grávida, se refugiaram numa pizzaria para escapar de uma casa incendiada pela polícia sérvia. Mas os policiais os perseguiram, dispararam suas armas automáticas e jogaram granadas contra o grupo. Depois, caminhões levaram os corpos para a cidade de Prizren.
O governo sérvio lutava contra guerrilheiros separatistas de Kosovo, uma província da Iugoslávia majoritariamente albanesa. E reprimiu violentamente a população local com o peso da máquina de guerra sérvia.
Promotores acreditavam em condenação só em 2010
Milosovic estava sendo julgado pelo Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia, em Haia, na Holanda, há quatro anos. O tribunal foi a primeira corte internacional de crimes de guerra estabelecida desde os julgamentos de Nuremberg e Tóquio depois da Segunda Guerra Mundial.
Promotores acreditavam que a condenação de Milosevic só viria em 2010, devido ao grande volume de informações e número de testemunhas. Somente a defesa convocou 199 pessoas, entre elas o ex-presidente dos EUA Bill Clinton e o premier britânico, Tony Blair.
Milosevic foi o principal líder político sérvio de 1987 a 2000. Os processo contra ele e 125 outras pessoas criou um corpo legal que muitos especialistas em direito diziam que serviria como guia para futuros tribunais de crimes de guerra.
Um dos grandes obstáculos para os promotores no processo contra Milosevic era a força da sua personalidade. Muitas testemunhas, como o ex-chefe de polícia, eram seus ex-subordinados, que continuavam se dirigindo a ele como "senhor presidente".
Milosevic nasceu em Pozarevac, Sérvia, em 20 de agosto de 1941, e era filho de um professor de teologia. Seu pai e sua mãe cometeram suicídio. O ex-ditador era fortemente influenciado por sua mulher, a neocomunista Mirjana, com quem teve dois filhos: Marko e Marija.