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batalha legal

Mineiros chilenos vão contra o próprio filme

Pablo Rojas , um dos mineiros resgatados, comemora a saída da mina em imagem de 2010 | RR/WY/HO
Pablo Rojas , um dos mineiros resgatados, comemora a saída da mina em imagem de 2010 (Foto: RR/WY/HO)

Só 29 passageiros estavam no transporte que levou os 33 mineiros de Atacama até o tapete vermelho do filme. Um dos quatro ausentes não podia viajar. Os outros três estavam indignados com os produtores e avisaram que não iriam — e que preferiam ser coerentes e lutar pelos direitos da história, cedidos integralmente a um estúdio de Hollywood, seguindo a lei californiana.

Cinco anos se passaram desde o desmoronamento e não haveria motivo para seguirem unidos. Mas depois de 70 dias lutando por suas vidas a 710 metros de profundidade na mina San José, decidiram formar uma sociedade anônima, ter uma marca, representantes, advogados e mantiveram a organização que durou até as primeiras diferenças começarem a surgir e sete deles se darem conta de que não sabiam o que constava nos contratos recém assinados.

Luis Urzúa e Juan Carlos Aguilar estavam em Santiago para a pré-estreia de “Os 33” (com lançamento oficial no Brasil marcada para o dia 29 de outubro). Urzúa, o capataz da quadrilha no momento do acidente, chegou ao tapete vermelho junto com Aguilar, direto de uma reunião de quatro horas e meia com os produtores do filme, liderados por Mike Medavoy. Havia o que se negociar. Queria revisar os direitos e a exigência da organização do evento, que previa a aparição deles frente às câmeras.

“Estávamos conversando (com os produtores) e chegamos a um acordo. Não podemos esclarecer os detalhes porque seguiremos em negociações, mas estamos mais alinhados. Sempre disse que não temos os contratos mais adequados e, lamentavelmente, não são todos os 33 que lutam por isso. Eu gostaria de representar a todos. Isso também mostraria aos companheiros que, quando se luta pelas coisas e quando as convicções são fortes, tudo é possível”, conta Urzúa.

Finalmente, Urzúa e Aguiar apareceram nas fotos oficiais junto com os outros 29, mas Víctor Zamora não assistiu a exibição do filme e nem pretende. Zamora, lembrado como o mineiro 14 (número que teve no resgate), um poeta e piadista, já não tem mais o mesmo humor. Desde 2011 não consegue emprego; há quatro meses teve sua casa destruída por uma barragem e está entre os que se sentiram enganados nos firmamentos dos contratos.

Zamora torce para que uma janela tenha sido aberta. “O problema é com os mineiros, não com o filme. O problema é que me enganaram e não vou baixar a guarda. Eu não tive problemas na mina, estou tendo aqui fora, com toda essa questão de direitos. Quero que me devolvam o que é meu. É verdade que assinei um contrato e que está feito, mas eles (os advogados) abusaram de nós. Não li. Tínhamos acabado de sair (da mina), com remédios, dopados e não nos apuraram. Depois, nunca mais os vi”, relata.

Zamora recebe a mesma pensão que também chega para os outros 32 mineiros, há três anos. São US$ 450 dólares por mês. Outros US$ 1.480 viriam como adiantamento nos quatro primeiros meses, pelo filme. Depois, dividiriam os mesmos ganhos da superprodução, mas garante: “Não recebi nada do que teriam que repassar (se refere aos 513 mil dólares que a produtora diz ter repassado). Do livro, só vieram US$1.030. Agora, tenho um advogado e vou ver o que posso fazer”.

Para a tranquilidade dele e de sua família, Zamora já não se ilude com a ideia de que todo o grupo recupere os direitos, nem faz todas as contas de quanto dinheiro deveria receber. Somando a pensão e outros auxílios para cada um deles, além dos contratos com advogados, divisões e descontos, se chega a uma conta de 7 mil dólares para cada mineiro. Dos lucros do filme e do livro, deveriam receber 80%. Os outros 20% são divididos entre duas empresas, MSJ (investidores) e WME (que fez a gestão dos direitos).

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