A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e seu marido, Néstor Kirchner, não desistiram da corrida presidencial de 2011. Apesar da derrota eleitoral do último dia 28, quando o governo perdeu maioria no Congresso, a Casa Rosada emitiu sinais de que o "kirchnerismo" continua no páreo. "Estou convencido de que (o candidato à Presidência) vai ser um homem ou uma mulher do 'kirchnerismo'", disse em entrevista à rádio Mitre, o ministro do Interior, Aníbal Fernández. Ao ser indagado sobre se será Néstor ou Cristina, o ministro foi ambíguo. "Néstor e Cristina formam parte desse grupo ('kirchnerista')", afirmou Fernández.
Em meio ao debate sobre as definições das candidaturas presidenciais, Fernández tentou mostrar o otimismo do "kirchnerismo", golpeado pelos resultados eleitorais que fortaleceram a oposição dentro e fora do Partido Justicialista (PJ), também chamado de peronista, ao qual pertencem Cristina e Néstor. "Não tenho a menor dúvida de que o (representante da Casa Rosada) que for candidato será o presidente", asseverou o ministro. Fernández também reconheceu que o governo precisa mudar sua estratégia de gestão, mas evitou dar detalhes. "Se corrigirmos as coisas que não fizemos bem, vamos ter o reconhecimento e o acompanhamento da sociedade", admitiu.
Fernández afirmou que "não é o momento" para analisar as razões da derrota. "Não estou desesperado para tirar conclusões hoje porque é preciso ter a cabeça fria. Faremos isso nos próximos dias", disse.
Os analistas políticos opinam que o governo ainda não realizou uma autocrítica do resultado eleitoral, que ficou apagado diante da rápida expansão do vírus da gripe A no país e suas consequências. Depois da entrevista coletiva à imprensa da presidente, na segunda-feira após as eleições, não houve mais declarações oficiais. Em plena discussão pelo poder político e da epidemia da gripe suína, Cristina fez uma viagem a Washington e, logo, a El Salvador, para ser uma das mediadoras do frustrado regresso do presidente Manuel Zelaya a Honduras.
Cristina foi duramente criticada pela oposição por deixar o país no atual momento. A presidente voltou nesta segunda e a expectativa dos analistas é de que ela defina algumas mudanças de nomes em seu gabinete para anunciá-los na próxima semana. Os fortes candidatos a deixar o cargo continuam sendo o ministro de Economia, Carlos Fernández, e o secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno. Essas mudanças também são pedidas pelos caciques peronistas, que começam a dar sinais de que pretendem limitar os poderes do casal Kirchner.
O mandato de Cristina dura até dezembro de 2011 e, até lá, os governadores peronistas que saíram fortalecidos das eleições querem formar uma espécie de junta no PJ para tomar as decisões de governo junto com a presidente. "Tradicionalmente, no PJ, quando um governo se debilita, os caciques se reúnem e passam a formar parte das decisões da Casa Rosada", explicou o analista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria.
Desde 25 maio de 2003 a 10 de dezembro de 2007, com Néstor no governo, e a partir dessa data com Cristina, o poder dos governadores se diluiu porque os Kirchner mantinham a maioria parlamentar e nas províncias. As eleições do dia 28 passado mudaram o cenário e a "junta de governadores" deve ser formada nos próximos dias.
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