O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, anunciou anteontem em Porto Príncipe que o governo brasileiro deve dobrar a ajuda financeira ao país, destruído pelo terremoto do dia 12. O dinheiro, segundo Amorim, será destinado à reconstrução do Haiti. A informação foi passada por Amorim ao premiê haitiano, Jean-Max Bellerive. Durante entrevista na base militar brasileira, o ministro aproveitou para alfinetar os EUA. "A nossa presença é a longo prazo e a dos Estados Unidos, passageira", afirmou, referindo-se à polêmica sobre a atuação de Washington no Haiti após o terremoto. Militares dos Estados Unidos têm trabalhado na área de segurança, uma tarefa oficialmente destinada ao Brasil pela ONU.
Amorim repetiu diversas vezes que é preciso assegurar a soberania do governo do Haiti. "O Brasil não está preocupado com liderança regional, mas em ajudar o Haiti, com respeito aos mandatos internacionais e ao governo do Haiti." O Brasil já havia anunciado US$ 15 milhões de ajuda emergencial no socorro ao país após o tremor. Segundo Amorim, o mesmo valor pode ser destinado para a reconstrução. "Não quero falar em cifra porque ainda haverá uma reunião preparatória. Eu penso na mesma quantia equivalente à que foi dada para emergência, mas para a reconstrução", afirmou.
Dos primeiros US$ 15 milhões, US$ 5 milhões já estão com a ONU, segundo Amorim. "O Haiti é uma obrigação do mundo", afirmou o ministro, que ontem reuniu-se com as principais autoridades envolvidas na missão da ONU no país.
O ministro chegou a falar em "Plano Lula" ao ser questionado sobre a possibilidade de estabelecer uma ajuda semelhante ao "Plano Marshall", nome dado ao projeto de auxílio aos países europeus destruídos na Segunda Guerra Mundial. "Pode ser o Plano Lula?", disse, em tom de ironia.
Amorim disse ainda que ofereceu ao governo haitiano ajuda na formação de pessoas para participar da reconstrução administrativa do país. Na última semana, as tropas brasileiras no Haiti deram uma resposta ao movimento militar dos EUA no país. O batalhão brasileiro montou uma megaoperação de distribuição de 10 toneladas de comida e 22 mil litros de água em frente ao Palácio Nacional, pela manhã, para abastecer 5 mil haitianos. Cerca de 20 carros militares brasileiros foram levados ao Palácio Nacional, entre eles dez blindados, além de 150 homens na operação. A escolha pelo Palácio Nacional não foi à toa. O general Floriano Peixoto Vieira Neto, chefe militar da missão da ONU no Haiti, admitiu que a entrega dos alimentos serviu, além de ajudar os haitianos, para o Brasil "marcar posição" em relação ao controle da segurança em Porto Príncipe. O general dirige uma tropa de 7 mil militares de vários países, tendo o Brasil o maior contingente, com 1,2 mil soldados.