A polícia da Bolívia prendeu nesta quarta-feira (20) o ministro da Saúde do país, Marcelo Navajas, após investigações sobre compra superfaturada de 170 respiradores da Espanha para serem usados por pacientes de Covid-19.
"Navajas está na condição de preso nas dependências da Força Especial de Luta Contra o Crime da cidade de La Paz", informou o comandante da unidade, Iván Rojas. Ele disse ainda que outras pessoas envolvidas com o caso foram detidas e outras terão que prestar esclarecimentos.
A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, havia ordenado a investigação no dia anterior. "Me comprometi a levar a fundo essa investigação contra os que cometeram um ato de corrupção na compra dos respiradores, e que cada centavo seja devolvido aos bolivianos", disse Áñez na terça-feira.
Os 170 respiradores chegaram à Bolívia na quinta-feira passada (14), para atender a emergência de saúde causada pela pandemia do novo coronavírus. Cinco dias depois, a compra se tornou um escândalo no país, com as denúncias de que os aparelhos foram comprados por um preço muito maior do que anunciado pelo fabricante e ainda teriam pouca utilidade.
Após a chegada das máquinas, médicos que atuam nos cuidados intensivos de pacientes com Covid-19 denunciaram que esses respiradores não seriam adequados para as unidades de tratamento intensivo dos hospitais da Bolívia.
O caso gerou reações do Movimento ao Socialismo (MAS), partido de oposição, que apresentou uma denúncia penal contra o ministro da Saúde.
Segundo a imprensa boliviana, o governo comprou a versão básica dos respiradores, vendida pela empresa espanhola GPA Innova por US$ 7.194, mas pagou US$ 28.080 por aparelho.
O total da compra, que deveria ser de US$ 1.222.980 de acordo com o preço anunciado pelo fabricante, ficou em US$ 4.773.600, segundo o contrato divulgado pelo governo boliviano.
"O contrato investigado por superfaturamento pelos respiradores era de US$ 4.773.600. Chegaram a pagar 2.028.780 do total aos espanhóis. Ordenei que não seja pago um centavo a mais", afirmou Áñez após a prisão do ministro, dizendo que continuará investigando "caia quem cair".
Dois funcionários do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) foram convocados a prestar depoimentos, já que a compra foi feita com financiamento da entidade. O BID expressou preocupação com as aparentes irregularidades na terça-feira.
"O Banco Interamericano de Desenvolvimento vê com preocupação as informações sobre possíveis irregularidades na aquisição de respiradores realizada pelo Ministério da Saúde da Bolívia com recursos de financiamento do banco, e respeita as medidas de fiscalização que as instituições públicas do país estão tomando para esclarecer o caso", diz comunicado divulgado ontem pelo banco.
Após a detenção de Navajas, a presidente Jeanine Áñez nomeou Eydi Roca como ministra interina da Saúde. Roca é a atual vice-ministra da Saúde.
Até esta quarta-feira, a Bolívia confirmou 4.481 casos de infecção pelo novo coronavírus e 189 mortes pela doença.